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O canário que canta o fado teve um colega que cantava a “Marselhesa”! Era inevitável! A-propósito do canário alemão que, ensinado pelo sr. alferes Marçal Leite, canta o “fado corrido”, em Viana do Castelo, escreveu-nos o sr. Raul Carlos da Silva Lucas, a dizer que, em 1914, possuiu um canário belga, de raça vulgar, que também cantava o “fado corrido” e as primeiras notas da “Marselhesa”. O fado aprendeu-o por meio de uma guitarra; o hino francês por assobio; sendo mestre em qualquer dos casos o dono, que “assobiava a Marselhesa com frequência”. Esse canário morreu, com a idade de oito anos, e em 1920, o sr. Raul Lucas tentou ensinar outro, da mesma raça, que ainda chegou a aprender o princípio de uma canção popular. Infelizmente morreu também, com um ano. Acontece com os canários, afinal o mesmo que com os cantores de fado: aparece um, surge logo dois ou três. Se os homens e as mulheres que cantam o fado já chegam para encher quatro ou cinco “retiros”, “salões” e “solares”, quantas gaiolas serão precisas, dentro em breve, para os canários “cultivadores da canção nacional”?! Mas há uma questão séria a resolver: o canário belga do sr. Raul Lucas tinha mais vasto repertório do que o do sr. Marçal Leite. Também cantava o principio da “Marselhesa”. É verdade que teria sido mais lógico ensinar-lhe a “Brabançonne”, que é o hino nacional belga. Seja como fôr, o dono do canário alemão, para conquistar a primazia entre os canários para o seu só tem um caminho: ensinar-lhe “Deutschland uber alles”, que é o hino alemão. Pela maneira como as coisas correm ainda aparecerá, ao menos por brio nacional, um desses lindos rouxinóis portugueses a cantar, quando mais não seja, a “Maria da Fonte”. É preciso marcar uma posição entre os canários! Só uma coisa nos impressiona: é a facilidade com que os canários belgas ou alemães aprendem o fado corrido. Também eles terão mágoas de amor? Haverá entre eles algum de “Mãos sujas” ou ande apaixonado pela “Rosa Maria”? Sabe-se lá! ... |