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“JORNAL DE NOTICIAS”

5 de Novembro de 1939

Porto


O canario de Viana, que canta o fado corrido, teve um predecessor no Porto

O canário de Viana do Castelo, que canta o fado corrido, há dias exposto num estabelecimento daquela cidade, não é caso novo.

Houve, pelo menos, um, aqui no Porto, que cantava tam bem ou melhor do que ele. Foi o canário do sr. Francisco Silva, o estimado industrial de barbearia da rua Sampaio Bruno.

  • Era um “bicho” de muita estimação, raçado de rouxinol. Viveu comigo dezoito anos – uma vida! Nesse tempo entretinha-me muito a tocar guitarra. Era, mesmo, a minha única diversão. O canário, apenas me via pegar no instrumento, ficava como doido, aos saltos na gaiola. Tocava o fado. E ele, de cabecita ao lado, acompanhava-me, assobiando com muita ternura. Uma inteligência!

O sr. Silva sublinha:

  • Não, o caso não é novo, nem imprevisto. Ouviu alguma vez a opereta “O passarinheiro”? Ouvi-a há muitos anos, por uma companhia Italiana. O tenor, quando cantava a valsa, tirava da gaiola um canário – que o acompanhava com muito mimo. Era um sucesso.

Subitamente triste, a esmoer recordações:

  • O meu canário morreu há muito. Mandei-o embalsamar. Não me queria desfazer dele. O embalsamador, como o achasse muito lindo, vendeu-o para o chapéu duma senhora, trocando-mo por outro de côr parecida. Dei logo pelo logro e reclamei. Escusou-se. Entreguei o caso a um advogado, o sr. dr. Júlio Gomes dos Santos – e só desisti da questão quando, humilde, me veio pedir perdão.
  • Queria assim tanto o seu canário?
  • Cantava o fado como ninguém – e foi um amigo como poucos. Um amigo barato – só comia painço.