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“SEMPRE FIXE”

9 de Novembro de 1939

Lisboa


UM conselho

Soube há dias uma coisa

Que me deixou abismada,

Pelo seu ineditismo

E por ser bem engraçada.



Em Viana do Castelo

Vive um canário famoso,

Pois canta a todo o momento

O fadinho rigoroso.



O seu dono, um certo alferes,

E fadista consagrado,

É que ensinou ao canário

A cantar o lindo Fado.



Dizem que o canariozinho

Está tão bem instruído

Que canta sem se enganar

O lindo fado corrido.



Aqui está um passarinho,

Pensei eu, com meus botões,

Que podia dar até

Algumas boas lições.



Pois aparecem às vezes

Cantadores e cantadeiras

Que chegam a fazer sono

Ou parecem carpideiras.



Enganam-se a cada passo,

Numa dição muito má

Quando cantam fazem dó,

Quando a guitarra diz lá.



Têm uma voz tão fraca,

E por vezes aflautada,

Que precisavam tomar,

Uma valente gemada.



P’ra esses que nada cantam,

E alguns são, infelizmente,

Eu vou-lhes dar um conselho

Que me parece prudente:



“Querem cantar? Pois que cantem

levem a cruz ao Calvario,

mas vão primeiro pedir

lições ao Senhor Canário!




Parece que toda a gente se admira de haver em Viana do Castelo um canário que canta o fado.

Pois não é verdade que já nem há cão nem gato que o cante?

Porque é que os canários haviam de ser mais estúpidos?


“Há um canário, alemão, no Minho, que canta, com todas as notas, o “Fado Corrido”, sem qualquer dificuldade. Eis uma linda musica!”