Pratica das Minas
Deffiniçoes
Nota28
1. Por Mina se entende huma passage por baixo do chão
continuada até de baixo do lugar, que se quer fazer saltar,
por meio de certa quantidade de polvora, que se poem no fim
da dita passage.
2. A passage até o lugar onde está a polvora se chama
Galeria.
3. O lugar onde se mete a pol-
[Página 48]
vora se chama
Camera.
4. Huma linha tirada do centro do espaço occupado pela
polvora perpendicularmente à superfice mais vizinha, se
chama linha de menor rezistencia.
5. A cava, que a Mina forma quando Rebenta, se chama
escavação.
6. O fogo se cõmunica ás Minas por hum canudo de coiro,
ou pano grosso, cujo diametro hé de polegada, e mea pouco
mais ou menos, chamado Salcichão, e que desde
a Camera se
estende até o principio da Galeria, onde se lhe poem huma
mecha de tal sorte regulada, que possa hum Mineiro,
[Página 49]
que dá
fogo, ter tempo de se retirar, antes que o fogo chegue a
Camera.
7. As Minas feitas pelos sitiadores no Attaque de huma
Praça se chamam simplesmente Minas, e as que são feitas pelos
sitiados contra Minas; mas tanto humas, como outras se fazem
do mesmo modo, e para o mesmo effeito, isto hé, para fazer
voar o inimigo, e as suas obras. Antes de ser attacada a
Praça, e muitas vezes no mesmo tempo, em que se edifica,
para poupar despezas, se fazem sómente as principaes
Galerias. Os sitiados fazem geralmente grande quantidade de
pequenas Minas de baixo da esplanada de seis, sete ou outo
pez de profundo sómente, as quaes se chamã Fogassas. Tãobem
fazem outras a que chamã Cofres, ou Caixoens,
[Página 50]
que são
verdadeiramente huns Caixoens de madeira de trés, ou quatro
pez de comprido, e hum ou hum e meio de largo enterrados
quatro cinco, ou seis pez de baixo da esplanada, e distantes
doze pez huns dos outros.
(M.r Muller Att. and. Deff. pag 214)
Como se devem fazer as Galerias, e as Cameras
"As Galerias, que se fazem
na fortificação antes de ser atacada a
Praça são divididas em varios ramaes,
que se dirigem a diferentes lugares,
tem geralmente quatro pez de largo, e
[Página 51]
cinco de alto, e se fazem de abobeda, e de pedra,
e cal, para sustentar a terra, e durarem
mais tempo , pois sendo a terra sustentada
com espeques de madeira continuadamente
estarão precizando de concerto. Não sendo
porem necessario, que durem muito tempo,
faz-se então a Galeria de tres pez de largo,
e cinco de alto, e se sustenta a terra com espeques de madeira.
Principiada a Galeria, e sabida
a sua direção vai o primeiro Mineiro trabalhando
de joelhos, e ao mesmo tempo está
outro de traz delle para hir deitando a
terra n'úm cesto, ou carrinho, que estando
cheio, leva até á entrada.
Se o principio da Galeria hé no
fundo de huma cova ou poço não muito
[Página 52]
alto, deve estar outro Mineiro em cima, para
deitar abaixo huma pequena corda com
hum gancho de ferro, em que o Mineiro
debaixo pendura o cesto, e em quanto este se
pucha, e vaza vai enchedo outro.
Sendo o poço mui fundo, e a Galeria
mui comprida se poem na boca do poço
para mayor expedição hum Sarilho
com a sua corda enrolada, em cujas pontas
se atam dois cestos, de sorte, que em
quando se puxa hum para cima vai o
outro para baixo como os alcatruzes de
huma nora.
Quando o primeiro Mineiro se
acha cançado o que lhe está imediato occupa
o seu lugar, e elle vai para o ultimo:
assim se vão succedendo huns e os outros
[Página 53]
até todos estarem cançados, e então são
rendidos por igual numero, que geralmente
hé de duas em duas oras.
Quando o primeiro Mineiro cava
mais terra, do que hum homem só pode
acarretar se poem de traz delle outro em
proporcionada distancia, o qual
[
recebendo]
Nota29
delle
o cesto o leva até o principio da Galeria;
e á medida, que esta vai crescendo se vão pondo
mais destes homens para acarretar a
terra, a iguaes distancias para hirem
passando os cestos de mão, em mão, e para
evitar toda a confuzão.
Continuada a Galeria por algu
espaço os Mineiros serão seguidos de
Carpinteiros, que vão segurando com espeques
a terra superior, não sendo barro
forte
[Página 54]
ou greda para não cahir. E isto se fas
fixando na terra hum páo de prumo de
hum lado, outro do outro, com hum
atravessado em cima, e tirando de cima deste
a terra que baste para poder meter-se por
cima delle huma taboa de pinho, e sustentada
esta no outro extremo do mesmo modo
sustentará a terra.
Deve sempre haver cuidado, em
que os páos de prumo fiquem bem fixos,
para o que se lhe metem á força boas cunhas
no pé; aliás o abálo da terra cauzado
pelas descargas de Artelheria, e pelas
Minas, que rebentarem a o pé, pode fazer
cahir a terra com perigo das vidas dos
Mineiros.
Em quanto a obra se vai conti-
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nuando uzã os Mineiros do lível
Nota30
dos
Pedreiros, para que a Galeria não suba nem
desça; e sendo-lhe necessario desviar-se da
direcção, que levam se servem de hum esquadro
para o fazerem sempre em angulos rectos.
Continuada a Galeria até
o lugar, onde se hade collocar a polvora,
fazem os Mineiros a Camera, que geralmente
hé de figura Cubica, e capaz de receber
em si huma Caixa de madeira, a
qual encerre a polvora necessaria pra a
carga; esta caixa se cobre de palha, e sacos
de area para impedir, que a polvora
adquira alguma humidade.
A Camera se faz sempre
mais baixa que a Galeria; havendo lu-
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gar para meter a Caixa, carregar a Mina
e especar bem a parte superior, hé o que basta.
Deve-se observar, que se os Sitiados podem
fazer subir agoa do fosso, e incomõdar
com ella a Galeria em vez de mais baixa
se deve fazer a Camera mais alta, que a
Galeria alias não deixarão de introduzir
nella a goa, e deitar a perder a Mina.
Quando a Galeria hé mui comprida,
e estreita achar-se o ar tão estagnado,
que nem se pode ter luz aceza nem respirar,
o que obriga os Mineiros a sahir
da Mina a miudo. Tem-se inventado
varios modos de prevenir este enconveniente.
Uzam alguns de hum grande folle
a cujo bico applicam hum canudo de
couro de tres polegadas de diametro pouco
mais ou menos, o qual chega desde o
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principio da Galeria até o fim onde os
Mineiros trabalham, ou tambem penduram
hum saco feito á maneira de funil de dois
pez de diametro em cima, e tres polegadas
em baixo com arcos pela parte de dentro
para se conservar o pano sempre estendido,
e lhe appliçam o canudo de couro, porem quanto
a mim não pode servir de
nada este methodo, por que a differença
da rarefacção do ar superior, e inferior
não pode cauzar circulação sensivel.
O melhor meio hé abrir buracos para
a parte decima de figura Conica a cada
quarenta, ou cincoenta Jards, o que
em partes se pode fazer com huma broca
de varios pedaços, e alargar-se de pois
pela parte debaixo, mas isto nem sempre
se pode fazer especialmente estando a Galeria
debaixo de alguma muralha alta
[Página 58]
ou edefficios, ou de parte, em que o inimigo
o possa perceber, pois não deixará de deitar
alguma massa fumoza dentro da Galeria
para suffocar os Mineiros. Tenho
informaçoens de que hum canudo, ou calhe
de páo, que chegue desde o principio até
o fim da Galeria cauza a circulação, que
baste para os Mineiros poderem trabalhar
sem inconveniente. Affirmã alguns
que o fogo de carvão posto na boca
da Galeria produz o effeito dezejado, o q
duvido, excepto se uzar do canudo. Deve-se
observar, que quando se uza do Canudo de
couro deve este ser feito de modo que fique
aberto, para que possa correr o ar por elle
livremente aliás seria inutil."
[Página 59]
Como se devem carregar, e alcancar
Nota31
as Minaz
Pag. 218
"Acabada a Galeria, e a
Camera, se faz huma caixa assas forte de
madeira do tamanho, e figura da Camera
e huma terça parte mayor que
o volume da polvora, que hade conter, no fundo,
e pelos lados desta caixa se poem alguma
palha, e esta se cobre com sacos vazios para
que a polvora nam adquira humidade,
no lado proximo á Galeria se abre hum
buraco perto do fundo para por elle pas-
[Página 60]
sar a Salcicha, a qual se prende no fundo
por meio de huma cavilha de páo, para
que se os inimigos chegarem á boca da Galeria
a não possã arrancar. Isto feito se
deita na dita caixa a polvora solta e se cobre
tambem com palha, e sacos; sobre tudo isto
se poem a tampa da caixa, e se carrega bem
para baixo com fortes espeques, e para que
estes fiquem mais seguros se fixam da parte
de cima em pranchas, metendo-lhe quãtas
cunhas for possivel.
Feito isto os espaços vazios entre os
espeques se enchem de pedra, e barro, e se
calca o mais que puder ser; por que o minimo
descuido neste trabalho hé o que basta
para alterar consideravelmente o effeito
da Mina.
[Página 61]
Depois disto se entroduz a calhe
de madeira desde a boca da Galeria até
á Camera com alguma palha no fundo;
mete-se-lhe dentro o Salcichão com palha
por cima, e se cobre tudo com a sua tampa
de páo pregada com pregos. Deve haver
especial cuidado em não opprimir muito
a calhe, quando se ataca a Galeria, para
não damnificar o Salcichão, que pode
não deixar tomar fogo á polvora, e impedir
deste modo, que a Mina rebente.
Attaca-se pois a Galeria com
pedras, e barro tudo bem calçado ate seis
ou sete pez mais longe da Camera, que
o comprimento da linha da menor Resistencia.
Para impedir, que a Mina re-
[Página 62]
bente para a parte da Galeria, e fazer que
todo o seu effeito seja para cima, se faz a
Galeria com hum ou dois cotovelos em
angulos rectos, e tudo bem seguro com espeques,
e pranchas, e os intervallos attacados
de pedra, e barro ou terra. Deve-se observar
que a distancia até onde se hade attacar a
Galeria, se deve contar em linha recta desde
a Camera, e não seguindo os cotovellos
da Galeria."
Regras
Para as curvas, e Escavações das Minas.
Hé precizo primeiro saber, que
"os Mineiros costumã
ordinariamente reduzir os differentes terrenos, em
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que fazem as Minas a 6 especies, que são
1 Terra solta, ou area
2 A terra ordinaria
3 A pissarra
4 O barro
5 Barro misturado com pedras
6 Toda a especie de Alvenaria
Achou-se que o pé cubico da primeira peza, 95 libras,
da segunda 124, da terceira, 126, da quarta, 135, e da
quinta, 160. Da sexta não se pode determinar o pezo com
exactidão.
Pertendem que para levantar huma toeza cubica da
primeira especie de terreno são necessarias 9 Libras de
polvora; 11 para a segunda; 13 para a terceira,
[Página 64]
15 para a quarta; 18 para a quinta; 20, ou 25 para a
Alvenaria sobre a terra, e 35, ou 40 sendo de baixo da
terra. Medidas Francezas.
M. de Vauban no segundo Volume do seu attaque, e
defensa de Praças diz que as seguintes Regras nunca faltam
Para uma toeza Cubica de
| terra ordinaria ......... | | 14lb |
---|
|
pissarra ................... | | 17lb |
---|
|
terra misturada ........ | | 18lb |
---|
|
barro........................ | | 19lb |
---|
|
| | 22lb |
---|
|
| |
[
15lb
]
|
---|
Nota32
Estas Regras de M. de Vauban fazem as cargas das
Minas maiores, que as dos Mineiros modernos. Só os
esperimentos he que podem decidir esto ponto; pelo que
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aconselhará aos Mineiros fizessem sempre (podendo) huma mina
de esperiencia, em cada novo terreno, que achassem.
Regra I
Nota33
[Est. 1]
Para conhecer o Frustro do Paraboloide mencionado no
principio II.*
[Fig. 9]
1. Tome-se o duplo da differença entre
a hippotenuza
FB.
e a linha de menor
rezistencia,
EF.
2. Multiplique-se esta quantidade pela linha de menor
rezistencia,
EF.
3. Multiplique-se este producto pela hyppotenuza,
FB.
[Página 66]
4. Multiplique-se este producto por 1.57, e este
ultimo producto será o Frustro
ABDC
buscado.
Exemplo. Seja a linha de menor rezistencia
FE.
,
10
pez; a hippotenuza
FB
, se se não conhece
antecedentemente se acha tirando, a raiz quadrada da soma dos
quadrados da linha de menor rezistencia, e do raio da baze, e sendo
este tãobem
10
pez a soma dos 2 quadrados será
200
, e a sua
raiz, quadrada
14.14
igual a hyppotenuza
FB
.
Então as quatro operaçoens desta Regra darão
1.a
8.28
.
2.a
82.8
3.a
1170.792
4.a
1838.137
, e será o Frustro,
1838
pez
[Página 67]
cubicos, desprezando os decimaes.
Regra II.
Tendo o valor do Frustro
ABDC
,
e alinha de menor
rezistencia
EF
para conhecer o parametro (parametro he
duplo da differença entre a hyppotenuza, e a linha de menor
rezistencia).
1. Multiplique-se a linha de menor rezistencia
EF
pelo numero
1.57
.
2. Por este producto se divida o duplo do Frustro,
ABCD
.
3. Ajunte-se a esta quantidade o quadrado da linha de
menor rezistencia,
EF
.
[Página 68]
4. Tire-se a raiz quadrada desta soma.
5. Desta raiz se subtrahia a linha de menor
rezistencia, este resto será o parametro.
Ex. Seja a linha de menor rezistencia
10
, e o Frustro
1838.137
teremos.
1.o
15.7
.
2.o
234.14
3.o
334.14
4.o
18.28
5.o
8.28
e sera
8.28
. o parametro buscado.
Regra III
Tendo o valor do Frustro
ABCD
,
e a linha de menor rezistencia para achar
[Página 69]
o raio
EB
da baze.
1. Ache-se pela Regra II o parametro.
2. Ajunte-se