O Net-Comércio em Portugal - Introdução ao Comércio Electrónico

1. Introdução

O presente documento fornece uma breve introdução ao tema do Comércio Electrónico. Discute a sua natureza, passando pelas suas motivações e categorias constituintes; considera os seus âmbito e impacto; e descreve vários casos práticos, aproveitando para relembrar as questões em aberto e os agentes envolvidos. Em suma, conduzir-se-á o leitor, mesmo que leigo na matéria, pelo contexto desta nova tendência mundial.

Cabe aqui referir, que este documento é baseado no original "An Introduction to Electronic Commerce" do projecto G7: "A Global Marketplace for SMEs".

2. Definição

Uma definição possível de Comércio Electrónico seria: "qualquer tipo de transacção comercial, em que as partes envolvidas interajam electronicamente e não através de trocas ou contactos físicos". Nesta definição estão incluidas as seguintes operações de negócio :

O Comércio Electrónico também abarca uma grande variedade de tecnologias, incluindo :

3. Tipos

O Comércio Electrónico pode-se dividir em quatro tipos, como ilustra a figura 1 :

Figura 1 - Tipos de Comércio Electrónico

Um exemplo do tipo negócio-negócio, é uma empresa que use uma rede global (como a Internet) para procurar catálogos de produtos, encomendá-los aos seus fornecedores, receber as facturas e efectuar o pagamento. Este tipo de Comércio Electrónico já se pratica há alguns anos, nomeadamente, usando EDI em redes privadas de valor acrescentado.

A classe negócio-consumidor é a secção de retalho do Comércio Electrónico e tem-se desenvolvido enormemente, devido ao advento da Web. Neste momento, já existem vários centros comerciais na Web, que comercializam todo o tipo de bens de consumo, tais como audio/vídeo, comida, computadores, carros, etc.

A categoria negócio-administração pública cobre todas as transacções entre empresas e estado. Por exemplo, a divulgação e condução de concursos públicos de aquisição nos EUA, já é feita através da Internet; e mesmo o pagamento/devolução de impostos entre empresas e a administração pública, pode ser feita electronicamente. Apesar desta categoria ainda estar na sua infância, pode expandir-se rapidamente, à medida que os governos começarem a usar as suas próprias operações para promover o Comércio Electrónico.

Ainda por emergir, está o tipo consumidor-administração pública. No entanto, a evolução dos dois tipos de Comércio Electrónico anteriores, deverá permitir num futuro muito próximo, o pagamento de contribuições por parte dos indivíduos, e também a devolução de impostos individuais.

4. Impacto

O Comércio Electrónico não é nenhum sonho futurista. Desenvolve-se neste momento e com vários exemplos de sucesso. Desenvolve-se a nível mundial - apesar dos EUA, Japão e Europa estarem a liderar esta tendência, o Comércio Electrónico tem um alcance global, tanto em termos de conceito, como de aplicação. Desenvolve-se rapidamente e com tendência para acelerar, à medida que o EDI atinge a maturidade e a Internet/Web continuam a crescer.

O impacto do Comércio Electrónico será profundo, tanto nas empresas, como na sociedade em geral.

Para as empresas que explorarem todo o seu potencial, o Comércio Electrónico possibilita mudanças de fundo - mudanças que alteram tão radicalmente as expectativas comerciais, que chegam a re-definir mercados ou até a criar novos mercados. Todas as outras empresas, incluindo as que preferem ignorar as novas tecnologias, sofrerão as consequências dessas mudanças, perdendo clientes e mercados.

Paralelamente à situação empresarial, os indivíduos também serão presenteados com novas formas de: comprar produtos, aceder a informações e serviços, e interagir com os organismos estatais. As alternativas aumentarão e as restrições geográficas e temporais desaparecerão. O impacto total no nosso modo de vida poderá comparar-se ao provocado no passado, pelo surgimento do automóvel ou do telefone.

5. Motivações

Conforme ilustra a tabela 1 e se explica de seguida, o Comércio Electrónico traz várias oportunidades para os fornecedores, e origina benefícios correspondentes para os consumidores.

  • Presença global / Escolha global

  • Tabela 1 - Oportunidades e Benefícios

    Oportunidades para os Fornecedores Benefícios para os Consumidores
    Presença global Escolha global
    Maior competitividade Qualidade do serviço
    Especialização em massa Personalização de produtos e serviços
    Reduzir/Eliminar cadeias de distribuição Resposta rápida às necessidades
    Reduções de custos substanciais Reduções de preços substanciais
    Novas oportunidades de negócio Novos produtos/serviços


  • Maior competitividade / Qualidade do serviço
  • Especialização em massa / Personalização de produtos e serviços
  • Reduzir/Eliminar cadeias de distribuição / Resposta rápida às necessidades
  • Reduções de custos substanciais / Reduções de preços substanciais
  • Novas oportunidades de negócio / Novos produtos/serviços
  • Apesar de todas estas oportunidades e benefícios serem distintas, elas estão inter-relacionadas. Por exemplo, o aumento da competitividade e da qualidade do serviço pode ter origem na especialização em massa; e a redução da cadeia de distribuição pode fazer poupar nos custos e preços ao cliente.

    6. Âmbito

    Longe de ser uma única tecnologia uniforme, o Comércio Electrónico é caracterizado pela diversidade. Como ilustra a parte superior da figura 2, ele pode englobar uma grande variedade de operações e transacções comerciais, tais como :

    Figura 2 - Âmbito do Comércio Electrónico

    A parte inferior da figura 2, ilustra essa mesma diversidade, no que diz respeito às tecnologias de comunicação abrangidas pelo Comércio Electrónico, incluindo correio electrónico (e-mail), fax, EDI (electronic data interchange - transferência electrónica de dados) e transferência electrónica de fundos (TEF). Qualquer das tecnologias apresentadas pode servir de suporte ao Comércio Electrónico, sendo que cada uma delas é mais adequada a determinado contexto, que as outras.

    A figura 2 também destaca a necessidade de um enquadramento legal e regulamentar bem definido, para todos os domínios do Comércio Electrónico, de forma que as transacções comerciais electrónicas sejam facilitadas e não dificultadas. Como a interacção global é uma das maiores oportunidades criadas pelo Comércio Electrónico, este enquadramento legal e regulamentar também deve ser de âmbito global.

    7. Níveis

    Tal como ilustra a figura 3, o Comércio Electrónico pode ser conduzido a vários níveis, desde uma simples presença online, até ao suporte electrónico de processos partilhados por várias empresas (num ambiente de empresa extendida ou virtual).

    E ao observar a figura 3, constata-se uma certa distinção entre transacções nacionais e internacionais. Essa distinção justifica-se, não por questões técnicas - já aqui se sublinhou a natureza global do Comércio Electrónico - mas por questões legislativas. O Comércio Electrónico é mais complexo a nível internacional que nacional, devido a factores como as cobrança de impostos, as leis contratuais, os direitos alfandegários, e as diferentes práticas bancárias entre países.

    Os níveis mais básicos de Comércio Electrónico, dizem respeito a uma simples presença online, à promoção da empresa, ou ao suporte pré e pós-venda. Usando ferramentas e tecnologias largamente difundidas, estes níveis podem ser implementados rapida e economicamente, como podem testemunhar neste momento, milhares de pequenas empresas. Contrastando com esta situação, as formas mais avançadas de Comércio Electrónico envolvem problemas complexos, tanto a nível legal e cultural, como a nível tecnológico. Neste caso, não existem soluções bem definidas e as empresas são forçadas a desenvolver os seus próprios sistemas, limitando a exploração destes níveis ao pioneirismo das grandes empresas. No entanto, o tempo fará com que a fronteira, entre o que é vulgar e o que é complexo hoje em dia, se mova para os níveis superiores de Comércio Electrónico, à medida que cada vez mais soluções bem definidas forem estalelecidas e difundidas.

    Figura 3 - Níveis de Comércio Electrónico

    8. Exemplos

    Para ilustrar a natureza da actividade em curso nos vários sectores da economia, apresentar-se-ão de seguida, vários exemplos bem sucedidos da aplicação do Comércio Electrónico.

    Comércio a Retalho

  • iBS (http://www.bookshop.co.uk/)
  • SimpleStore (https://www.solsuni.pt/)
  • Virtual Vineyards (http://www.virtualvin.com/)
  • Finanças

  • Barclays Bank (http://www.barclays.co.uk/)
  • ESI (http://www.esi.co.uk/)
  • Grupo BFE (http://grupo.bfe.pt/)
  • Serviços Internet

  • IP Global (http://ip.pt/)
  • Atendimento ao Cliente

  • Portugal Hotel Guide (http://www.maisturismo.pt/phguide/)
  • Top Tours (http://www.toptours.pt/)
  • Suporte Pré e Pós-Venda

  • Hewlett Packard (http://www.hp.com/)
  • GE Plastics (http://www.ge.com/gep/)
  • Desenho de Engenharia

  • Ford
  • GEN (http://www.gen.net/)
  • Suporte Empresarial

  • citiusNet (e-mail: citius@mail.citius.fr)
  • MadInfo® Pro (http://www.madinfo.pt/empresas/)
  • Suporte Jurídico

  • Jurinfor (http://www.jurinfor.pt/)
  • Publicação Electrónica

  • Jornal de Notícias (http://www.jnoticias.pt/)
  • The Times (http://www.the-times.co.uk/)
  • Serviços Profissionais

  • de Kreek (http://www.dds.nl/dekreek/)
  • Contacto Internacional

  • Global Tradepoint Network (http://www.unicc.org/untpdc/)
  • Partilha de Processos Empresariais

  • Tesco
  • 9. Questões em Aberto

    Apesar do Comércio Electrónico continuar a crescer, existem alguns aspectos a refinar, de forma a aproveitar o seu máximo potencial.

  • Globalização
  • Potencialmente, as redes globais tornam tão fácil, negociar com um parceiro do outro lado do mundo, como com um do outro lado da rua. No entanto, o meio de comunicação por si só, apesar de necessário, está longe de ser suficiente. Como é que empresas de diferentes continentes, tomam conhecimento umas das outras e dos produtos pretendidos? Como é que uma empresa pode aceder às regras de conduta empresarial de determinado país, quando grande parte delas nem sequer estão escritas? E como é que se pode respeitar e suportar a diversidade linguística e cultural de determinada comunidade de utilizadores? Estas e outras, são questões que se inserem no capítulo da globalização - tornar realidade o Comércio Electrónico verdadeiramente global.

  • Aspectos contratuais e financeiros
  • Imagine que uma empresa tailandesa consulta o catálogo online de uma congénere russa e lhe encomenda alguns produtos, recebendo-os e pagando-os electronicamente. Este cenário simples levanta algumas questões fundamentais, ainda por resolver. Em que momento foi estabelecido um contrato vinculativo entre as duas empresas? E qual o estado legal desse contrato? Que entidade tem jurisdição sobre ele? Dadas as diferentes regras e práticas financeiras, como é feito e confirmado o pagamento? Que impostos e encargos aduaneiros se aplicam aos produtos? E como é que eles são fiscalizados e cobrados? Poder-se-iam evitar recorrendo a um intermediário electrónico num terceiro país?

  • Propriedade
  • Particularmente para os artigos distribuíveis electronicamente e que por isso, podem ser copiados facilmente, a protecção dos direitos autoral (copyright) e da propriedade intelectual, representa um grande desafio.

  • Privacidade e segurança
  • O Comércio Electrónico sobre redes abertas requer mecanismos efectivos e confiáveis para garantir a privacidade e a segurança das transacções. Estes mecanismos devem suportar a confidencialidade, a autenticação (i.e. permitir que as partes envolvidas numa transacção se certifiquem da identidade uma da outra), e a não-repudiação (i.e. garantir que as partes envolvidas numa transacção não possam, subsequentemente, negar a sua participação). Como os mecanismos reconhecidos de privacidade e segurança dependem da certificação por parte de uma terceira entidade (governamental, por exemplo), o Comércio Electrónico para ser global, necessitará do estabelecimento de um sistema de certificação, também ele global.

  • Aspectos de interconexão e interoperação
  • Para atingir o máximo potencial do Comércio Electrónico é necessário que o acesso seja universal, ou seja, que cada empresa ou consumidor possa aceder a toda e qualquer organização comercial, independentemente da localização geográfica ou da rede específica a que essa organização estiver conectada. Isso requer a existência de normas universais para a interconexão e interoperação de e entre redes.

  • Aplicação prática
  • Um dos factores que pode limitar a emergência do Comércio Electrónico é a falta de consciencialização para o mesmo. Existe o perigo de muitas empresas (principalmente PMEs) ficarem para trás e em situação de desvantagem, simplesmente por desconhecerem as possibilidades e oportunidades do Comércio Electrónico. Portanto, torna-se urgente consciencializar a sociedade em geral, e o mundo empresarial em particular, para os benefícios do Comércio Electrónico, tal como divulgar exemplos da sua aplicação, e providenciar treino e formação.

    10. Agentes

    Várias das questões identificadas acima, requerem soluções a nível global. Daí que os agentes responsáveis pela sua resolução e pela promoção do Comércio Electrónico como um todo, devam incluir entidades de âmbito multi-nacional. Similarmente, os governos nacionais devem agir no sentido de remover as barreiras existentes e assegurar a livre concorrência; e os representantes dos vários sectores da sociedade, devem promover a consciencialização e as aplicações práticas do Comércio Electrónico. Finalmente, não se podem esquecer os agentes tecnológicos e as empresas e consumidores em geral, nas suas acções de desenvolver, adoptar e explorar o Comércio Electrónico. A tabela 2 resume os agentes envolvidos e as suas acções desejáveis.

    Colectivamente, estes agentes devem realizar todas as acções da tabela 2. Cada um deles tem alguma responsabilidade por várias acções e reciprocamente, cada uma das acções é partilhada por vários agentes.


    Tabela 2 - Agentes e Acções

    agentes acções
    entidades multi-nacionais

    governos nacionais

    representantes dos sectores

    fornecedores de tecnologia

    empresas

    consumidores
    moldar a Sociedade da Informação
    remover barreiras globais
    garantir livre concorrência
    remover barreiras nacionais
    promover consciência e adopção
    providenciar tecnologias de suporte
    re-organizar o negócio
    adoptar as tecnologias
    agarrar as oportunidades


    11. Conclusão

    Este documento introdutório deu ênfase ao conceito geral de Comércio Electrónico, como veículo que vem revolucionar o mundo os negócios. Destacou a importância de adoptar uma perspectiva global para esta matéria; e deixou antever que o seu impacto será profundo, tanto nas empresas, como na sociedade em geral.

    Apesar de haver uma série de questões em aberto, o Comércio Electrónico já está em curso e desenvolve-se rapidamente. É essencialmente uma revolução da base para o topo. Empresas do mundo inteiro, começam por estabelecer a sua presença online numa rede aberta e global, e à medida que vão aprendendo com a experiência, vão avançando para usos mais sofisticados das tecnologias. Apesar dos níveis mais avançados de Comércio Electrónico, apresentarem grandes desafios, os mais básicos estão completamente definidos e existem soluções largamente difundidas para a sua implementação.

    A melhor maneira de ganhar mestria, num tema tão vital para os futuros mercados, como é o Comércio Electrónico, é desenvolvê-lo hoje.