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Ensaio sobre as Minas
Instrucção
1780 Sobre huma materia tão importante como esta não temos nada
escrito em Portuguez. Nas outras Nações sim tem havido
pessoas de grande nome, que tem comprehendido o tratala, mas
até agora ningue o tem feito completamente, e sem cahir em
notaveis abuzos, ou erros de consequencia. Os primeiros
Mineiros cuidaram que a figura da escavação era hum Cone de
huma altura igual ao Raio de baze; depois imaginaram q. era
hum Cone truncado, cuja altura, Diametro
[Página 2]
do fundo, e Raio da
baze erãm sempre iguaes; o Tenente General de la Valière
achou por meio de huma medição exacta, que a escavação nem
era hum Cone, nem hum Cone truncado; mas sim hum
paraboloide; conservou porem o antigo abuzo, de que o
diametro da baze nunca podia exceder a linha de menor
resistência; que finalmente as experiencias feitas por M.
Belidor na Escola d'Ártelharia dela Fère pelos annos 1730
desterraram de todo.
Achada esta verdade importantissima ás apalpadellas, eis nos
acõmette logo a curiozidade de averiguar /ou para fallar mais
verdade/ a vaidade de demonstrar por principios àpriori,
como, e porque faz a polvora na terra hum paraboloide, e não
hum Cone, ou hum Cone truncado, ou outra qualquer figura.
Eis ahi Mr Dulacq, que quiz fazer hum Mechanismo de
Artelharia, e que para demõstrar
[Página 3]
este ponto, se poem a
calcular errado,
*
e a raciocinar em vão, como no resto da sua Obra,
[Página 4]
ou ainda mais se pode ser. Ajusta o vertice da parabole
ordinaria no angulo de hum triangulo, toma
por razoens inversas, o que está mui longe de o ser, &c, &c, &c.
O Sabio M.r Muller Professor d'Ártelharia, e Forteficação na Academia
Real de Inglaterra, discipulo de Belidor, e que assistio às
experiencias, de que fallei, achou felismente huma nova
Theorica segura, e completa, quanto baste para a pratica, e
confirmada incontestavelmente por ella. Não cahio na
tentação de querer deduzir de principios a priori a figura da
escavação. Exactas, e repetidas medições lhe segurarã, que
he hum paraboloide: isso lhe basta, pois a razam porque o hé
não inflûe nada na Arte das Minas. Vio que o Frustro do
paraboloide terminado pela baze, e pelo circulo, que passa
pelo Foco, está sempre na razam das cargas, e julgando este
principio assaz demõnstrado pela experiencia cons-
[Página 5]
tante, desprezando prudentemente todo o calculo, ou
raciocinio vão,
e inutil, reduz toda a Theorica das Minas à
Resolução de
huma equação do segundo graó.
*
Quem prevenido da grande reputação de M. Dulacq neste
Reyno se admirar do que aqui se diz delle, ponha os olhos
nessas mizeraveis equaçoens, que se achão no seu
Mecham d'Árt; pag._110 mihi:
,
,
e para se nam cuidar, que foi erro da imprensa acrescenta
[
puisque]
Na cópia manuscrita lê-se
"
jurisque
"
,
a correcção foi feita de acordo com a pág._110 do livro de Dulacq
intitulado
"
Theórie nouvelle sur le Mécanisme de l'Ártillerie
"
,
publicado em Paris, em 1741.
0 ne multiplie point i. e. porque 0 tem privilegios
de unidade. He vergonha, e grande vergonha criticar couzas
tão summamente triviaes, pois não ha Rapaz da escolla, que
não possa ensinar a Mr. Dulacq, que
4
vezes nada he nada,
e nam
4
vezes nada he
4
, como elle cuida; mas sirva isto
somente para que a gente se não deixe preocupar de hum
grande nome, e para que alguns Autores afrancezados não
escrevão tanto à pressa.
A minha primeira tenção quando me rezolvi a dar
alguma couza em Portuguez sobre as Minas, foi traduzir
fielmente o excellente Tratado de M.r Muller, porem acho
nelle algumas asserções, que me parecem mal fundadas, alguns
principios, que não posso adoptar por me não parecerem
certos, do que darei as minhas razões, e quem ler julgará.
Alem disto vejo a Obra de Mr Dulacq na mão de quasi todas as
pessoas da Profissaõ, e para q. os principiantes se não
enganem com os brilhantes termos de Demonstração,
evidência provarei, demonstrarei &c,
tantas vezes, e tão em falso
repetidos me pareceo justo por-lhe
[Página 6]
diante dos olhos, quanto Mr. Dulacq se enganou na
determinaçaõ do modo, com que a polvora opéra na Mina, e
quanto he diverso o Caminho, que seguio, do que devia seguir
nesta averiguação.
Constará pois este pequeno Tratado de tres partes.
Na primeira darei huma ideia de como a polvora opéra na
terra, e como esta lhe resiste diversamente em differentes
partes, procurando deduzir destas consideraçoes a figura da
Escavaçaõ. Desta Theorica /que hé o que só posso chamar
inteiramete meu neste papel/ pouco, ou nada se pode
determinar para a practica. Eu confeço a sua inutilidade
neste sentido, servirá porem de contentar a curiozidade
naturalissima de saber pouco mais, ou menos por que razaõ, e
como as Escavaçoes tomam sempre huma
[Página 7]
figura certa, e naõ outra, e para desterrar os abuzos de
alguns Autores, principalmente os erros de Mr. Dulacq, e
alguns de Mr Muller, se naõ sou eu talvez o que me engano.
A segunda será hum extracto da Theorica de Mr. Muller, á
qual ajuntarei hum Problema, que me parece necessario, e
como a sua soluçaõ dá huma equaçaõ biquadratica, darei com
essa occaziaõ o excellente methodo de Daniel Bernoulli para
achar as raizes das Equaçoes racionaes, no q. me parece faço
algu serviço aos Curiozos, que o naõ tiverem ainda visto.
A terceira conterá Regras practicas para regular as
cargas, e linhas de menor rezistencia, conforme os diversos
terrenos, e intentos acõmodadas á capacidade de hum Mineiro,
que não saiba mais, que as quatro operaçoes
[Página 8]
da Arithemetica, e extraçaõ da raiz quadrada, e cubica;
As pessoas que naõ entendem Algebra poderaõ fazer o seu
estudo nesta terceira parte somente, e deixar as outras.
Para cabal intelligencia do que digo na primeira
parte, me parece necessario dar a propriedade, e formaçaõ
universal das sessoes Conicas, e espero naõ deixará isto
de ser util, e agradavel á quellas pessoas, que naõ tiverem
visto se naõ Belidor, o qual as trata separadamente, e
cada huma por differente modo, o que naõ deixa de ser
deffeituozo, pois bem sabida hé a utilidade, e superioridade
dos methodos geraes; e o Leitor o poderá julgar do que digo
nesta.
Preparação
Sobre [Est. 1.a
Fig. 1.a] a linha Recta
A B
destinada para
[Página 9]
directrix se levante huma perpendicular
CG
indefinita, e
nella se escolha hum ponto qualquer
D
para vertice, e outro
qualquer
F
, para Fóco, ou embigo de huma curva, e exprima
p
,
e
q
a razaõ das distancias do vertice ao Foco, e a
directrix, isto he, chame-se
CD
,
p
; e
DF
,
q
; digo que se
cada hum dos pontos da Curva distar da directrix, e do Foco na
razaõ de
p
a
q
, será huma sessaõ Conica, por se acharem nas
Sessoens de hum Cone as mesmas propriedades como se verá
He evidente que quando
p > q
, hu dos pontos da Curva se
achará na linha
CG
, pois nella posso tomar huma linha
FE
,
tal que seja
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
CF+FE:FE::p:q
"
;
foi acrescentada a barra por cima de
CF + FE
, como é usado
noutras partes do texto e que supomos aqui não ter sido copiada do
original.
,
por haver de ser
FE<CE
, e tambem
que o ponto
E
he o q. mais dista de
F
; por que para nenhuma
outra parte mais distante se poderá tomar outra,
[Página 10]
cuja distancia ao Foco, e á directriz estejam na razaõ
de
p
a
q
. Isto mostra que neste cazo torna a curva a entrar
em si mesmo, isto he que as suas pontas se ajuntam em
E
.
Nas outras porem naõ succede assim pois quando por
ex.
p=q
nunca posso tomar na linha
CG
huma parte
FG
, que
seja para
[
]
O mesmo da nota anterior, relativo agora a
FG+CF
.
. aliás seria a parte igual ao todo.
Assim hirá a curva affastando-se para os lados sem nunca se
poderem ajuntar as suas pontas: hir-se há porem affastando
cada vez menos, por que cada vez se hirá aproximando mais da
razaõ de igualdade de
CG
a
FG
por se poder augmentar
FG
quanto cada hum quizer, ficando
CF
sempre constante.
Quando
p<q
muito mais se affastaraõ as pontas da
curva pois por mais que se
[Página 11]
[Fig. 2.a] estenda
CG
nunca nella se poderá tomar huma
parte
FG
que seja
maior que o seu todo
CG
. pode-se contudo tomar para a outra
banda da directrix /neste só cazo, e naõ nos outros/ o que
mostra que a curva tambem jaz da outra parte.
Bem quizera demõstrar, e expor estas, e outras
couzas mais por extenso, mas a brevidade, que me propuz neste
papel mo naõ permitte, e o rezervo para hum particular
[
trattado]
Na cópia manuscrita lê-se
"
rattado
"
;
supomos que o autor se refere aos Princípios Mathemáticos.
.
O Leitor se contentará com a ideia geral, que dou
aqui deste methodo, e lhe ficará facil com qual quer
applicaçaõ deduzir delle todas as propriedades das sessoens
Conicas. Eu entretanto tocarei o que me parecer mais
necessario, suppondo sabidas ao menos as principaes
propriedades da Elipse.
[Página 12]
No primeiro cazo se demonstra que a curva he huma
Elipse, e tambem chamando à metade do eixo maior
a
temos
[
]
Na cópia manuscrita não existe as barras sobre
p+2a
e
2a-q
.
.
que dá esta equaçaõ
pq+2aq=2ap-pq
, e esta
isto he a metade do eixo, ou a distancia
do vertice ao
centro exprimida em partes de
p
, e de
q
. Ora na Elipse
he o quadrado de qualquer ordenada para o rectangulo das
partes, em que ella divide o eixo como oquadrado do eixo
menor para o quadrado do eixo maior, ou como o lado recto, ou
parametro para o eixo grande. Seja
P
o parametro
x
a
abscisa, e
y
a ordenada; teremos
; e será
A equaçaõ
A
mostra que sendo
p
variavel quanto mais
crescer mais diminuirá
a
; e quanto mais crescerá
a
Parece
que a frase completa devia ser
"
e quanto mais
decrescer mais crescerá
a
.
"
;
consideremos pois
p
em todas as porporçoens, em que pode
estar
[Página 13]
com q.
I.
Seja a distancia da directrix ao vertice infinita isto he
seja
e pondo este valor na equaçaõ
A
, teremos
o que mostra que neste cazo
coincide o centro com o Foco. Ora na Elipse a ordenada ao
Foco he metade do parametro, e se acha fazendo
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
"
; parece manifesto que deve ser
pq+qq
em vez de
pp+qq
.
logo neste cazo teremos
, porq.
a equaçaõ se transforma em
ponhamos agora
2a
em lugar de
P
na equaçaõ
B
, e
teremos
, o que tudo mostra que entaõ he a curva
hum circulo.
II.
Da distancia infinita, em que estava [Fig. 3.a]
a directriz
AB
se
venha avizinhando o vertice
D
; consideremo-la, por ex. n''huma
distancia
CD
finita mas com tudo maior que
DF
, he
[Página 14]
evidente que a medida que a directriz veio caminhando da
pozição
AB
até a pozição
AB
, se foi a curva estendendo, e
alargando, isto he a medida, que diminuia
CD
hiam crescendo
as
NF
a Respeito da constante
DF
, e temos a equação
A
, e a
equação
B
, que nos dão
NQ
q.
significa
, como resulta da comparação com a equação
B
.
e continuando a directrix a chegar-se ao vertice quanto mais se
chegar, mais crescerã o eixo, mais se affastarã o centro do
vertice, ate que
III.
[Fig. 4.a] Em chegando á pozição
ab
onde
p=q
a equação
A
dará
ou
escrevendo a unidade em lugar de
q
. isto he,
foge o
centro do vertice até huma distancia infinita. E a
equação
B
darã
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
"
;
parecem manifestas as correcções feitas, de acordo com a equação
B
.
equação da parabole. Logo porem que a directrix
sahe da pozição
ab
para qualquer outra
xb
em
, isto he
[Página 15]
IV.
Assim que for
p<q
a equação
A
dará o centro
para a parte
opposta
pois he evidete que então será o seu primeiro
membro negativo por ser
p<q
, e fazendo-o affirmativo teremos
que mostra ser o eixo tirado do vertice
não para
mesma banda de
q
como era dantes, mas para a de
p
. A
equação
B
dará
[
]
Na cópia manuscrita não existe barra sobre
2a+x
.
equação da hyperbole.
Continûe a directrix a chegar-se
ao vertice: hirã deminuindo ao mesmo paço que o semieixo
,
pois he bem claro que quanto menor for
p
maior será o
denominador
-p+q
, e menor o numerador
pq
.
V.
Ultimamente em a directrix se avizinhando tanto ao vertice
que o toque, isto he, assim que for
p=0
, teremos
a
, ou
,
o que mostra que então os vertices
8D
[sic] coincidem. Ora
como a parametro se
[Página 16]
acha sempre fazendo
[
]
Mesma observação da nota 6.
teremos neste cazo
, e por concequecia a equação
B
dará
onde se vê que neste cazo não ha
abscis __ [sic] isto he que se na linha
DG
se tomar qualquer ponto
por mais proximo que se tome ao vertice
D
a perpendicular, que
delle se levantarâ
DG
nunca poderá tocar a curva, o que
mostra que se abrio tanto que ficou recta, e coincide com a
directrix.
Temos visto pelo movimento da directrix formar-se do
circulo a Elipse, Parabole, e Hyperbole, e abrir-se até a
linha recta. O que temos ditto sobeja para a intelligencia
do que se segue e basta para dar aos principiantes /para quem
só escrevo/ huma ideia deste methodo.
[Página 17]
Parte I.
Nova Theorica das Minas
1. Lembremo-nos primeiro que tudo, que a polvora incendida
não hé outra couza mais que hum fluido elastico,
e permanente, cuja força deve naturalmente estar na razão do
calor, e da densidade, e como o calor está evidentemente na
razão da densidade, segue-se que da força da polvora está na
razão duplicada da desidade; mas a densidade está sempre na
razão composta da directa das quantidades, e da inversa dos
volumes; logo a força da polvora estará na razão composta da
directa duplicada das quantidades, e da inversa duplicada
dos espaços, que occupão, o que está amplamente explicado
[Página 18]
na Theorica da polvora.
2. Consideremos huma carga de polvora enterrada em hum lugar
tão profundo, que o pezo da Columna superincumbente exceda
á força da polvora.
I.
Se a terra hé incomprimivel não fará o impulso da polvora
effeito algum, e ficará esta occupando o mesmo espaço, que
occupara de antes, pois de todas as partes se lhe reziste
infinitamente.
II.
Se a terra hé comprimivel lhe cederá igualmente por todas
as partes até que a força da polvora, que vai diminuindo na
razão inversa dos espaços que vai occupando fique em
equilibrio com a força com que a terra reziste á compressão.
[Página 19]
3. Esteja [Fig. 5.a] agora a Carga n''huma distãcia tal da superficie da
terra, que seja o pezo das columnas superincumbentes menor que
a força da polvora, supondo pois a Carga em
D
/de figura
Cubica, ou esferica para maior comodidade/ então.
I.
Se a terra não he comprimivel, procurãdo a polvora
estender-se para todas as partes dirigindo a sua força por
linhas perpendiculares á superficie da esfera, que forma,
e sendo rezistida infinitamente por todas as partes excepto
pela parte de cima lhe cederá só a linha de menor
rezistencia
CD
, e muitos raios
DE
tomados
nas direçoens das
forças cõmunicadas pêla polvora, porem he claro que estes
raios
DE
rezistirão diversamente, pois a força cõmunicada a
cada hum pela polvora em
e
hé a mesma /pela propriedade dos
fluidos de terem sempre
[Página 20]
todas as suas forças em equilibrio/ e a rezistencia, que
elles fazem a essa força tanto pelo seu pezo, como pela
coherencia de huns com os outros cresce n''huma certa razão
directa dos mesmos raios, e por consequencia acharemos hum
AD
cuja rezistencia esteja em equilibrio com a força da
polvora, e não lhe cederâ, e muito menos qualquer dos outros
aD
, o que tudo parece evidente.
II.
Se a terra porem hé comprimivel, todas as partes desde
G
para baixo lhe cederão sómente pela sua compressibelidade, e
de
G
para cima pela mesma compressibelidade, e juntamente
por serem de hum pezo menor, que a força da polvora, e este
hé verdadeiro cazo das Minas, pois a terra hé comprimivel:
examinaremos isto mais miudamente.
[Página 21]
4. Accende-se a polvora, e começa a dilatar-se, a terra lhe
cederá igualmente por todas as partes até hum certo termo, em
que a força necessaria para a comprimir mais hé maior, que a
que basta para vencer a coherencia das partes, e o pezo. Ora
esta rezistencia procedida da coherencia das partes, e do
pezo em nenhuma parte hé menor que junto á linha de menor
rezistencia, logo por esta parte principiará a ceder, e /se
acazo se pode assi dizer/ quebrará a terra da mesma sorte,
que se quebra huma taboa opprimida de huma potencia capaz de
vencer a coherencia das suas partes.
5. A polvora, que vai continuando a dilatar-se [Fig. 6.a]
acha huma
sahida em
a
, mas esta sahida he pequena pelo que continuarâ
a opprimir toda a circunferencia, porem ja não igualmente;
por que 1.o o vaõ ja esta cheio de terra
[Página 22]
solta de quando a terra por ali se quebrou, e que só
rezistem pelo seu pezo: 2.o as partes
b
cedem empurrando para
dentro do dito vão as partes
e
: 3.o cada uma das partes
d
cederão empurrando tambem para a banda de
a
as partes, que
lhe ficarem para essa banda: 4.o finalmente a parte mais
inferior
e
cederá para baixo empurrando para os lados as
partes, q. lhe ficam vizinhas. Ora he claro que quanto mais
terra houver acima de cada parte
d
mais custará a essa parte
o ceder; isto he, mais rezistirâ, menos espaço cederâ, e
esta rezistencia bem se vê, que gradualmente vai augmentando
desde
b
até
e
.
6. Cederá pois a circumferencia
bdde
gradualmente: cederâ
cada parte
d
em razão composta da compressibilidade da
terra, e da multidão de partes, que tem, que mover
[Página 23]
para a banda de
a
para ceder; ora a compressibilidade da
terra pode-se suppor a mesma em qualquer altura, crescerâ
logo esta rezistencia com a multidão de partes, que tem que
mover para a banda de
a
. Neste computo porem deve tambem
entrar a diversa altura de terra que cada parte
d
tem em
cima de si, e quanto essa terra dista do vão
f
,
a
,
pois quanto
mais distar delle menos abalada estará, e menos solta, e mais
custará a mover-se debaixo della a parte
d
, o q. tudo nos tira
totalmente a esperança de saber em q. razão cresce a ditta
rezistencia; deixemos pois esta averiguação, e continuemos.
7. Supponhamos que n'úm primeiro [Fig. 7.a] instante
cedeo a parte
a
até
b
, no segundo até
B
, no terceiro até
B
, hé claro
que o espaço
bB
há de ser maior que o espaço
ab
,
BB
maior que
bB
&c, porque a parte
b
tem em cima
[Página 24]
de si menos terra, e mais solta, e abalada q.
a
,
B
que
b
, e
B
que
B
/tomando a força da polvora sempre igual, ou tomando os
tempos desses instantes em razão duplicada dos espaços
occupados pela polvora/. Os espaços
ad
,
dD
,
DD
, &c.
hirão sempre sendo tanto mais pequenos quãto mais se
aproximarem de,
eE
,
EE
&c, e a razão, em que esta
diminuição se faz hirâ crescendo cada vez mais, isto hé
[
ab:\partial d,&c< bB:\partialD, &c < BB:DD, &c,
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
ab\partial d,&c<bB:
\partialD,&c<BB:DD,&c,
"
não existindo
o sinal de razão entre
ab
e
\partial b
, como parece
que deve existir; além disso, as letras da fig. 7, estampa 2,
não correspondem rigorosamente às do Texto, pelo que se torna
difícil a interpretação correcta das expressões em que figuram.
por que huma das couzas, que contribuem para qualquer parte
\partial
,
D
, ou
D
&c, rezistir mais, ou menos hé
a maior, ou menor distancia, em que está da ultima
b
,
B
,
ou
B
, &c pois quanto maior for essa distancia mais terra
tem, que mover para a parte de
c
,
C
, ou
C
&c,
As letras
c
,
C
,..., não se vêem na fig. 7 da Est. 2;
em compensação as letras
d
,
\partial
,
D
,...,
aparecem duas vezes.
o que mostra, q. tirando raios do centro
O
á curva destes
hirão sempre crescendo mais os que estiverem mais proximos á
linha de menor rezistencia, que os que estiverm mais
[Página 25]
apartados.
He tambem assas claro que isto hirá continuando até
que a polvora não achando cousa, q. se lhe opponha, ou a
retarde da parte de cima escape toda para o ar, e isto
succederâ quando a esquina
B
se desvanecer inteiramente como
em
b
.
Emfim façamos outra consideração: se a polvora
acha-se igual rezistencia por todas as partes formaria huma
esfera; achando porem menor rezistencia de huma banda
estender-se há para essa parte formando ....... Que hé o q.
primeiro nos vem a ideia? hum Elipsoide, e nos acabamos de
ver o circulo
a\partial\partial e
hir abrindo-se, e estendendo-se ate
formar huma curva
, em que se não acha
curvatura para a parte de dentro, quero dizer, que huma
linha tirada por
paralella a
af
a não corta em outra
parte, vimos hir crescendo cada vez mais a razão entre o
interválo
Oe
do
[Página 26]
foco ao Vertice, e o eixo
ea
(
), e quando finalmete não
há rezistencia da parte de cima se poderá tomar por
infinito. Não concorre tudo isto confirmar-nos, em que a
escavação de huma Mina se hade formar da mesma sorte que
vimos na Preparação hir pelo movimento da Directrix,
abrindo-se e estendendo-se o circulo até formar a parabole?
Na falta de meios de poder calcular a rezistencia da terra
nas diversas partes da curva para determinar a sua natureza,
bastava, o que estâ dito para fazer a hypotezis plauzivel,
porem a experiencia o confirma, pois medindo-se exactamente
qualquer Mina se acha ser hum paraboloide. Alem disso, por
que outro modo se poderia formar hum paraboloide? Não me
canço em refutar o com que Mr. Dulacq, o pertende formar, por
que involve tantos absurdos, que absolutamente não necessita
de refutação.
[Página 27]
10. Deixando pois todos os calculos, e raciocinios vãos, e
inuteis, inferimos do que estâ dito
I.
Que se /n'úm terreno homogeneo/ se fizerem duas Minas,
cujas cargas estejam na razão dos cubos das linhas de menor
rezistencia, as Escavações serão paraboloides semelhãtes.
Por que discorrendo pelo modo a cima, e tomando os augmentos
momentaneos do raio
oa
sempre semelhantes, isto hé, sempre
na razão das linhas de menor rezistencia, acharemos os
Elpsoides correspondentes tambem semelhãtes, por se
acharem sempre no fim desses espaços semelhantes por toda
a parte rezistencias semelhantes (isto he
semelhantes quantidades de terra para mover) e semelhantes
sómas de forças communicadas, que vem a fazer a mesma relação
entre as forças, e as rezistencias numa, e noutra Mina, o que
farâ que o numero
[Página 28]
destes espaços momentaneos, serâ o mesmo tambem n'úma, e
n'óutra, e por conseguinte compondo serão as suas sõmas, isto
he os paraboloides semelhantes
Q.E.D.
II.
Que sendo a linha de menor rezistencia a mesma, e as
cargas diversas, a que tiver maior carga farâ maior
abertura
. He esta verdade assas evidente por si mesma; mas
do que estâ dito se não pode tirar meio algum para determinar
essa abertura, segundo a quantidade de polvora da carga.
III.
Que sendo a carga a mesma, serâ menor a abertura da
quella, cuja linha de menor rezistencia for maior
. He
igualmente claro, e evidente, pois contra huma mesma
potencia há maior rezistencia tanto de cima, como dos lados,
e por consequencia não se abrirâ tanto.
[Página 29]
IV.
Que no primeiro cazo, em que as Minas são semelhantes
serâ a terra arrojada com igual velocidade
; por que nas
peças semelhãtes, as cargas semelhantes arrojam bálas
semelhantes com igual velocidade.
Seria em mim temeridade querer levar mais longe esta
Theorica, e querer á força deduzir della huma exacta
explicação dos Fenomenos admiraveis da polvora incendida no
ceio da terra, e derivar como faceis Corolarios a [sic] regras da
Arte das Minas. Assim contentãdo-me com ter mostrado
/segundo me parece/ palpavelmente como se forma a Escavação,
passo a dar a Theorica de M. Muller pelo modo mais breve,
claro, e methodico, que podér.
[Página 30]
Parte II
Theorica M. Muller
John Muller (1699-1784),
alemão de nascimento, foi, em 1741, nomeado director da
Academia Real Militar de Woolwich na Inglaterra;
mais tarde, tornou-se aí professor de Fortificação e Artilharia, lugar que ocupou até ser reformado.
A Teoria das Minas aqui referida é exposta por J. Muller
no seu livro
"
The Attack and Defence of Fortified Places
"
, 2.a
ed., publicado em Londres em 1757.
Anastácio
da Cunha traduz e sistematiza
partes dessa Teoria.
Esta Theorica não se emprega em raciocinios, nem em
averiguações da cauza dos Fenomenos. Recebe-os das mãos da
Experiencia, e sem mais gastar tempo se encaminha logo à
practica. Eis aqui os principios, em que se funda.
"Principio I"
"A figura da Escavação da Mina he hum paraboloide"
Este principio plenamente confirmado por exactas,
repetidas, e authenticas experiencias, he o mesmo que Dulacq
pertendeo
[Página 31]
em vão demõstrar por meio do raciocinio, e calculo, e que
nos imaginâmos ter mostrado. Se o consegui-mos, ou se tambem
trabalhamos debalde, dirâ o Leitor. M. Muller não se detem em
averiguar, por que modo, e por que razão isto hé; para dar
as Regras da Arte das Minas basta-lhe saber que o hé.
[(a)
Notta I]
"Principio II" .(a)
[Est. 1
Fig. 8]
As figuras 8, 9 e 10 não se referem à estampa 1 mas sim à
estampa 2, como se pode verificar.
"Nas Minas feitas em hum mesmo terreno
homogeneo o Frustro de Paraboloide
ABED
,
que tem por altura a linha de menor rezistencia estâ sempre
na razão da Carga."
M. Muller quer provar este principio dizendo
"Que ninguem poderâ dizer q. alguma terra da linha
DE
para baixo
[Página 32]
he arrojada para cima pela polvora, q. por
consequencia a terra arrojada hé só a de
DE
para cima, isto hé, o Paraboloide truncado
ABED
, e que como os effeitos são
proporcionaes ás cauzas, estarâ sempre a quantidade
de terra arrojada, isto hé o Frustro
ABED
na razão da quantidade da polvora da carga."
Quam pouco exacto hé este raciocinio! quantas
objeções tem contra si! 1.o Nem todos concederão que de
DE
para baixo nenhuma terra sobe para cima. 2.o Quem nos segura
que toda a terra de
DE
para cima hé arrojada pela polvora?
Se M. Muller quer que toda a terra de
DE
para baixo seja
somente
[
comprimida]
Na cópia manuscrita lê-se
"
comprida
"
.
,
porque razão o não serâ tambem, e não
arrojada, parte da que fica de
DE
para sima? 3.o Se o
effeito proporcional á cauza fosse nas Minas sómente a terra
arrojada, concedendo-lhe que essa terra
[Página 33]
hé o Frustro
ABED
então se elle considera essa
quantidade de terra determinada logo no primeiro impulso da
polvora parece antes dever estar na razão do quadrado do
diametro da carga como quer Dulacq. pag. ___ [sic] e se colige
facilmente na Theorica da polvora: se porem a considera
proporcional á sõma das forças cõmunicadas em todo o tempo,
que a Mina rebenta, tambem erra, pois os effeitos da polvora
sô são proporcionaes quando os obstaculos, q. move, e os
espaços por onde os move, são porporcionaes ás suas
quantidades. Esta asserção sô teria lugar nas Minas
semelhantes, isto hé, na quellas, cujas cargas estão na
razão triplicada das linhas de menor rezistencia.
A verdadeira prova, que M. Muller dá deste principio,
he quando mostra que sete experiencias feitas na Escola
d'Ártelharia
[Página 34]
de la Fere correspondem com a mais escrupuloza exactidão aos
calculos, que nelle funda.
Problema Geral.
"Determinar as dimenções, e relações
dos Frustros dos paraboloides, ou excavações
das Minas, mencionados no II Principio."
[Est. 1
Fig 9 e 10]
"Seja
r
da circumferencia de que hé
[
raio]
Na cópia manuscrita lê-se
"
raiz
"
, mas deve ser raio,
de acordo com a tradução da palavra inglesa
"
radius
"
em Muller.
A letra
r
aqui referida corresponde, como é óbvio, a
.
a unidade, isto hé, seja
r=1,57
Ora o
raio hé para a metade da circumferencia
ou
1
he para
2r
como os quadrados dos raios
para as areas dos seus circulos, serâ
2r\vezes\delim{AE}^2
o Circulo de
AE
,
2r\vezes\delim{CF}^2
o circulo
de
CF
,
r\vezes\delim{AE}^2\vezesEG
o paraboloide
ABG
,
r\vezes\delim{CF}^2\vezesFG
,
o paraboloide
CDG
, e por consequencia
r\vezes\delim{AE}^2\vezesEG-r\vezes\delim{CF}^2\vezesFG
o Frustro
ABCD
.
[Página 35]
Seja
P
o parametro, e como a propriedade
da parabole nos dâ
P\vezes EG=\delim{AE}^2
,
P\vezes FG=\delim{CF}^2
substituidos estes valores na expressão do Frustro teremos em seu
lugar esta
r\vezes P\vezes\delim{EG}^2 - r\vezesP \vezes \delim{FG}^2
:
e como
EG = EF + FG
substituido este valor de
EG
se transformarâ esta expressão nesta,
; e como
FB=EF + 2FG
se transformarâ ainda nesta
.
Como
r
hé hum numero constante pode-se para mais
facilidade desprezar quando se tratar sómente da comparação dos Sólidos,
ou Frustros, e não da sua medição reduzindo a expressão a esta
por ex. sejam
ABG
,
abg
,
as escavações de duas Minas serâ pelo que acabando de dizer o Frustro
ABCD
para o Frustro
abcd
,
como o sólido
para
o solido
onde se vê que deixando
[Página 36]
r
de fora preziste a analogia. Pela mesma razão quando a linha
de menor rezistencia for a mesma, se poderâ deixar de fora, ficando
a expressão reduzida a esta,
o que facilita, e
abrevia muito as operações."
Com este problema se resolvem os tres seguintes, que
com os dois Principios forma em suma a Theorica de M. Muller.
Problema II
"Dado o Frustro, e a linha de menor
rezistencia achar o parametro da parabole."
"Seja
A
o Frustro,
b
a linha de menor rezistencia,
p
o parametro. Escrevendo pois na equação
,
p
em
lugar de
P
,
b
em lugar de
EF
, e
em
[Página 37]
lugar de
FB
/conforme as propriedades da parabole/ teremos esta
equação
e ordenando-a teremos esta
,
cuja raiz he
___"
Tratando-se somente da comparação dos Sólidos pode-se
deixar
r
de fora, e sendo a linha de menor rezistencia a
mesma se pode deixar hum
b
de fora, ficando então a
equação,
pp+2bp=2A
que dá
Problema III
"Dado o Frustro, e a linha de menor
rezistencia achar o diametro da baze."
"Como temos
A
, e
b
achado
p
pelo
Problema antecedente a propriedade da parabole nos dá
pelo que
será o
diametro buscado."
"Problema IV."
"Dada a linha de menor rezistencia e
o diametro da baze achar o Frustro."
"Chamemos
2a
o diametro da baze teremos
à hypotenuza
FB
/fig. ant./
Ora
FB-EF
, ou
;
logo no sólido
temos
p
conhecido
conhecido
conhecido e
r
cõstante,
e por conseguinte conhecido todo o Sólido."
Com estas equações se propoem M. Muller rezolver, e
rezolve todos os problemas, que podem pertencer à Theorica
das Minas, excepto porem hum que não toca, e que sem em-
[Página 39]
bargo disso me parece importantissimo, mas para o rezolver
hé necessario saber achar as raízes das equações, o que se
faz mais geral, e comõdamente pelo
Methodo de Daniel
[
Bernoulli]
Na cópia manuscrita lê-se
"
Bernoville
"
M Muller Traité
[
Analytique des sections coniques fluxions et fluentes]
Na cópia manuscrita lê-se
"
Traité Analyque des sectiones consiques Fluxioens &c Fluentes
"
.
O Título do livro de J. Muller agora
referido é
"
Traité Analytique des sections
coniques, fluxions et fluentes avec un essai sur la
quadrature et un traité du mouvement
"
, publicado em
Paris em 1760; os problemas em causa são tratados nas páginas
202 e 205 desse livro.
"Problema 1"
"Achar a menor raiz de qualquer
equação racional, que não contenha mais
de huma quantidade variavel."
"He necessario igualar a equação à unidade,
de sorte que a equação geral
possa exprimir a equação par-
[Página 40]
ticular; depois
disto hé necessario tomar tantos
termos arbitrarios,
A
,
B
,
C
,
quantas forem as raizes da equação, e multiplicar estes termos por
ordem inversa /isto hé principiando sempre pelo
ultimo/ cada hum por seu coefficiente, que nessa
ordem lhe corresponde dos termos da equação, e a
sua sóma serâ o termo seguinte por ex.
aC+bB+cA=D
,
aD+bC+cB=E
,
aE+bD+cC=F
&
sic caetera, o que suppondo
A=B=0
,e
C=1
dá 0, 0, 1,
a
,
aa+b
,
,
,
,
e o penultimo termo dividido pelo ultimo
será
proximè a raiz buscada: Assim
He precizo notar que quanto mais se cõtinuar a serie,
menos defferirâ a raiz da verdadeira, e que os termos
arbitrarios
A
,
B
,
C
, de
[Página 41]
vem sempre ser cifras, e unidades. Todo o artificio
deste methodo consiste em escolher os termos
arbitrarios de sorte que a serie seja o mais convergente,
que pode ser; mas para isto creio que so a pratica poderâ
ensinar o caminho mais breve."
[(b)
Not. II ]
Esta Nota II não se encontra no livro
de Muller referido na nota 18.
"Demonstração" (b)
"Reduzindo este valor de
x
a huma serie
infinita darâ
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
;
a correcção foi feita de acordo com o livro de Muller:
"
Traité Analytique
"
.
Ora como isto mesmo se acha
buscando o valor de
x
por meio das series, segue-se
que o valor achado hé
proximè à raiz
que se busca."
"Problema 2"
"Achar a maior raiz de huma equação
qualquer racional, que não contenha mais de
huma quantidade variavel."
[Página 42]
"Ponha-se a incognita elevada á mais alta potencia
de huma banda, e todos os mais termos da outra de sorte que
a equação se possa comparar com a formula geral
e se seguirá a Regra do Problema antecedente, excepto
que o consequente hé que se deve agora dividir pelo
seu antecedente. Assim teremos
1
,
a
,
aa+b
,
,
,
[
_]
Na cópia manuscrita há mais uma parcela
"
+2bc
"
,
manifestamente repetida e que não se encontra no
"
Traité Analytique
"
de Muller.
+2ad
,
e
serâ a raiz buscada.
A demõnstração hé a mesma, que a do Problema
antecedente, e se notará da mesma sorte que quanto maior
for o coefficiente a do segudo termo mais convergerâ a serie"
Supposto isto vamos ao nosso cazo.
[Página 43]
Problema
Dado o Frustro, e o Raio da base de huã Mina achar a linha
de menor rezistencia.
Por meio das equações
C.
e
E.
podemos ter huma, em
que não aja mais que a incognita
b
/pois
p
tambem o hé
neste cazo/ v. g. excrevendo na equação
E.
em lugar de
p
o
seu valor achado na equação
D.
, temos
deixando
r
de fora
para simplicar mais o calculo, e pondo o
radical de huma banda, e os mais termos da outra, quadrando
ambos os membros, e ordenando, teremos
ordenando finalmente esta equação para ser rezolvida pela 1.a
regra de Daniel
[
Bernoulli]
Na cópia manuscrita lê-se
"
Bernouilli
"
.
serâ,
e pela 2.a
e reduzindo
a
, e
A
a numeros em huma, ou outra darâ
[Página 44]
proximamente o valor de
b
.
Exemplo I.
Seja o raio igual à unidade, e o Sólido
A
duplo do
Cubo do raio, escrevendo pois
1
em lugar de
a
, e
2
em lugar de
A
, será a equação, cuja raiz se busca
/ordenando-a para ser rezolvida pela regra segunda/
, e tomando para primeiros termos
1
,
1
,
1
,
0
teremos
[
1
,
1
,
1
,
0
,
3
,
6
,
10
,
19
,
37
,
69
,
129
,
244
,
360
,
664
,]
Segundo a regra indicada, entre o termo igual a zero e o termo igual a três desta sequência, faltam os termos
.
e dividindo o ultimo termo
664
[
pelo]
Na cópia manuscrita lê-se apenas
"
pe
"
.
penultimo
360
teremos
proximè.
Para vermos se o valor achado hé sufficientemente
exacto, não temos mais do que formar pelo Probl. III o
sólido
A
pois temos o raio
1
, e a linha de menor
rezistencia
1.844
, e se acharâ que differe de Sólido
2
em pouco
[Página 45]
mais de
.
Exemplo II
Seja agora a unidade o diametro da baze, e o Sólido
A
do cubo do diametro; escrevemos por conseguinte
em lugar
de
a
, e
em lugar de
A
, o que nos dá /ordenando a
equação para ser resolvida pela primeira regra/
; mas como das series, que se
acham para esta equação nenhuma converge bem, será melhor que
expulsemos
[
b
]
Na cópia manuscrita não está indicada
a incógnita a eliminar, mas é imediato que se trata de
b
,
tirado da equação
E
.
da equação
C.
, o que nos dá
[
]
A equação obtida como resultado da eliminação referida
na nota anterior é a indicada; na cópia manuscrita lê-se:
.
,
que ordenada para ser rezolvida pela primeira regra, fica
e substituidos, os numeros, as letras,
e
suppondo
1
,
1
,
1
,
1
teremos
1
,
1
,
1
,
1
,
2
,
3
,
4
,
5
,
7
,
10
,
14
,
19
,
26
,
36
,
50
,
69
,
95
,
131
,
181
,
250
, e por conseguite
proximè.
Ora o valor de
b
[Página 46]
tomando na
equação
E.
he
, que substituidos os
numeros, as letras, dá
b=.164
, e
formado o Sólido se achará igual a
.0623
&c que
differe do verdadeiro em pouco mais de
.
[Página 47]
Parte III
Pratica das Minas
Deffiniçoes
Estas definições encontram-se no livro
de Muller
"
The Attack and Defence
"
na página 213, embora aí
não estejam numeradas; daqui em diante é sempre citado este livro
de J. Muller e não mais o
"
Traité Analytique
"
.
1.
Por
Mina se entende huma passage por baixo do chão
continuada até de baixo do lugar, que se quer fazer saltar,
por meio de certa quantidade de polvora, que se poem no fim
da dita passage.
2.
A passage até o lugar onde está a polvora se chama
Galeria.
3.
O lugar onde se mete a pol-
[Página 48]
vora se chama
Camera.
4.
Huma linha tirada do centro do espaço occupado pela
polvora perpendicularmente à superfice mais vizinha, se
chama
linha de menor rezistencia.
5.
A cava, que a Mina forma quando Rebenta, se chama
escavação.
6.
O fogo se cõmunica ás Minas por hum canudo de coiro,
ou pano grosso, cujo diametro hé de polegada, e mea pouco
mais ou menos, chamado
Salcichão, e que desde
a Camera se
estende até o principio da Galeria, onde se lhe poem huma
mecha de tal sorte regulada, que possa hum Mineiro,
[Página 49]
que dá
fogo, ter tempo de se retirar, antes que o fogo chegue a
Camera.
7.
As Minas feitas pelos sitiadores no Attaque de huma
Praça se chamam simplesmente
Minas, e as que são feitas pelos
sitiados
contra Minas; mas tanto humas, como outras se fazem
do mesmo modo, e para o mesmo effeito, isto hé, para fazer
voar o inimigo, e as suas obras. Antes de ser attacada a
Praça, e muitas vezes no mesmo tempo, em que se edifica,
para poupar despezas, se fazem sómente as principaes
Galerias. Os sitiados fazem geralmente grande quantidade de
pequenas Minas de baixo da esplanada de seis, sete ou outo
pez de profundo sómente, as quaes se chamã Fogassas. Tãobem
fazem outras a que chamã
Cofres, ou
Caixoens,
[Página 50]
que são
verdadeiramente huns Caixoens de madeira de trés, ou quatro
pez de comprido, e hum ou hum e meio de largo enterrados
quatro cinco, ou seis pez de baixo da esplanada, e distantes
doze pez huns dos outros.
(M.r Muller Att. and. Deff. pag 214)
Como se devem fazer as Galerias, e as Cameras
"As Galerias, que se fazem
na fortificação antes de ser atacada a
Praça são divididas em varios ramaes,
que se dirigem a diferentes lugares,
tem geralmente quatro pez de largo, e
[Página 51]
cinco de alto, e se fazem de abobeda, e de pedra,
e cal, para sustentar a terra, e durarem
mais tempo , pois sendo a terra sustentada
com espeques de madeira continuadamente
estarão precizando de concerto. Não sendo
porem necessario, que durem muito tempo,
faz-se então a Galeria de tres pez de largo,
e cinco de alto, e se sustenta a terra com espeques de madeira.
Principiada a Galeria, e sabida
a sua direção vai o primeiro Mineiro trabalhando
de joelhos, e ao mesmo tempo está
outro de traz delle para hir deitando a
terra n'úm cesto, ou carrinho, que estando
cheio, leva até á entrada.
Se o principio da Galeria hé no
fundo de huma cova ou poço não muito
[Página 52]
alto, deve estar outro Mineiro em cima, para
deitar abaixo huma pequena corda com
hum gancho de ferro, em que o Mineiro
debaixo pendura o cesto, e em quanto este se
pucha, e vaza vai enchedo outro.
Sendo o poço mui fundo, e a Galeria
mui comprida se poem na boca do poço
para mayor expedição hum Sarilho
com a sua corda enrolada, em cujas pontas
se atam dois cestos, de sorte, que em
quando se puxa hum para cima vai o
outro para baixo como os alcatruzes de
huma nora.
Quando o primeiro Mineiro se
acha cançado o que lhe está imediato occupa
o seu lugar, e elle vai para o ultimo:
assim se vão succedendo huns e os outros
[Página 53]
até todos estarem cançados, e então são
rendidos por igual numero, que geralmente
hé de duas em duas oras.
Quando o primeiro Mineiro cava
mais terra, do que hum homem só pode
acarretar se poem de traz delle outro em
proporcionada distancia, o qual
[
recebendo]
Na cópia manuscrita lê-se
"
rebendo
"
,
no original de Muller está
"
... who takes the
basket from the first ...
"
.
delle
o cesto o leva até o principio da Galeria;
e á medida, que esta vai crescendo se vão pondo
mais destes homens para acarretar a
terra, a iguaes distancias para hirem
passando os cestos de mão, em mão, e para
evitar toda a confuzão.
Continuada a Galeria por algu
espaço os Mineiros serão seguidos de
Carpinteiros, que vão segurando com espeques
a terra superior, não sendo barro
forte
[Página 54]
ou greda para não cahir. E isto se fas
fixando na terra hum páo de prumo de
hum lado, outro do outro, com hum
atravessado em cima, e tirando de cima deste
a terra que baste para poder meter-se por
cima delle huma taboa de pinho, e sustentada
esta no outro extremo do mesmo modo
sustentará a terra.
Deve sempre haver cuidado, em
que os páos de prumo fiquem bem fixos,
para o que se lhe metem á força boas cunhas
no pé; aliás o abálo da terra cauzado
pelas descargas de Artelheria, e pelas
Minas, que rebentarem a o pé, pode fazer
cahir a terra com perigo das vidas dos
Mineiros.
Em quanto a obra se vai conti-
[Página 55]
nuando uzã os Mineiros do lível
O mesmo que nível;
expressão arcaica.
dos
Pedreiros, para que a Galeria não suba nem
desça; e sendo-lhe necessario desviar-se da
direcção, que levam se servem de hum esquadro
para o fazerem sempre em angulos rectos.
Continuada a Galeria até
o lugar, onde se hade collocar a polvora,
fazem os Mineiros a Camera, que geralmente
hé de figura Cubica, e capaz de receber
em si huma Caixa de madeira, a
qual encerre a polvora necessaria pra a
carga; esta caixa se cobre de palha, e sacos
de area para impedir, que a polvora
adquira alguma humidade.
A Camera se faz sempre
mais baixa que a Galeria; havendo lu-
[Página 56]
gar para meter a Caixa, carregar a Mina
e especar bem a parte superior, hé o que basta.
Deve-se observar, que se os Sitiados podem
fazer subir agoa do fosso, e incomõdar
com ella a Galeria em vez de mais baixa
se deve fazer a Camera mais alta, que a
Galeria alias não deixarão de introduzir
nella a goa, e deitar a perder a Mina.
Quando a Galeria hé mui comprida,
e estreita achar-se o ar tão estagnado,
que nem se pode ter luz aceza nem respirar,
o que obriga os Mineiros a sahir
da Mina a miudo. Tem-se inventado
varios modos de prevenir este enconveniente.
Uzam alguns de hum grande folle
a cujo bico applicam hum canudo de
couro de tres polegadas de diametro pouco
mais ou menos, o qual chega desde o
[Página 57]
principio da Galeria até o fim onde os
Mineiros trabalham, ou tambem penduram
hum saco feito á maneira de funil de dois
pez de diametro em cima, e tres polegadas
em baixo com arcos pela parte de dentro
para se conservar o pano sempre estendido,
e lhe appliçam o canudo de couro, porem quanto
a mim não pode servir de
nada este methodo, por que a differença
da rarefacção do ar superior, e inferior
não pode cauzar circulação sensivel.
O melhor meio hé abrir buracos para
a parte decima de figura Conica a cada
quarenta, ou cincoenta Jards, o que
em partes se pode fazer com huma broca
de varios pedaços, e alargar-se de pois
pela parte debaixo, mas isto nem sempre
se pode fazer especialmente estando a Galeria
debaixo de alguma muralha alta
[Página 58]
ou edefficios, ou de parte, em que o inimigo
o possa perceber, pois não deixará de deitar
alguma massa fumoza dentro da Galeria
para suffocar os Mineiros. Tenho
informaçoens de que hum canudo, ou calhe
de páo, que chegue desde o principio até
o fim da Galeria cauza a circulação, que
baste para os Mineiros poderem trabalhar
sem inconveniente. Affirmã alguns
que o fogo de carvão posto na boca
da Galeria produz o effeito dezejado, o q
duvido, excepto se uzar do canudo. Deve-se
observar, que quando se uza do Canudo de
couro deve este ser feito de modo que fique
aberto, para que possa correr o ar por elle
livremente aliás seria inutil."
[Página 59]
Como se devem carregar, e alcancar
Esta palavra,
que conservámos da cópia manuscrita, não a encontrámos nos dicionários da
Língua Portuguesa consultados; supomos que devia ser
acalcar,
o mesmo que
calcar; o título no original inglês é
"
Of loading and stopping the Mines
"
.
as Minaz
Pag. 218
"Acabada a Galeria, e a
Camera, se faz huma caixa assas forte de
madeira do tamanho, e figura da Camera
e huma terça parte mayor que
o volume da polvora, que hade conter, no fundo,
e pelos lados desta caixa se poem alguma
palha, e esta se cobre com sacos vazios para
que a polvora nam adquira humidade,
no lado proximo á Galeria se abre hum
buraco perto do fundo para por elle pas-
[Página 60]
sar a Salcicha, a qual se prende no fundo
por meio de huma cavilha de páo, para
que se os inimigos chegarem á boca da Galeria
a não possã arrancar. Isto feito se
deita na dita caixa a polvora solta e se cobre
tambem com palha, e sacos; sobre tudo isto
se poem a tampa da caixa, e se carrega bem
para baixo com fortes espeques, e para que
estes fiquem mais seguros se fixam da parte
de cima em pranchas, metendo-lhe quãtas
cunhas for possivel.
Feito isto os espaços vazios entre os
espeques se enchem de pedra, e barro, e se
calca o mais que puder ser; por que o minimo
descuido neste trabalho hé o que basta
para alterar consideravelmente o effeito
da Mina.
[Página 61]
Depois disto se entroduz a calhe
de madeira desde a boca da Galeria até
á Camera com alguma palha no fundo;
mete-se-lhe dentro o Salcichão com palha
por cima, e se cobre tudo com a sua tampa
de páo pregada com pregos. Deve haver
especial cuidado em não opprimir muito
a calhe, quando se ataca a Galeria, para
não damnificar o Salcichão, que pode
não deixar tomar fogo á polvora, e impedir
deste modo, que a Mina rebente.
Attaca-se pois a Galeria com
pedras, e barro tudo bem calçado ate seis
ou sete pez mais longe da Camera, que
o comprimento da linha da menor Resistencia.
Para impedir, que a Mina re-
[Página 62]
bente para a parte da Galeria, e fazer que
todo o seu effeito seja para cima, se faz a
Galeria com hum ou dois cotovelos em
angulos rectos, e tudo bem seguro com espeques,
e pranchas, e os intervallos attacados
de pedra, e barro ou terra. Deve-se observar
que a distancia até onde se hade attacar a
Galeria, se deve contar em linha recta desde
a Camera, e não seguindo os cotovellos
da Galeria."
Regras
Para as curvas, e Escavações das Minas.
Hé precizo primeiro saber, que
"os Mineiros costumã
ordinariamente reduzir os differentes terrenos, em
[Página 63]
que fazem as Minas a 6 especies, que são
1 Terra solta, ou area
2 A terra ordinaria
3 A pissarra
4 O barro
5 Barro misturado com pedras
6 Toda a especie de Alvenaria
Achou-se que o pé cubico da primeira peza, 95 libras,
da segunda 124, da terceira, 126, da quarta, 135, e da
quinta, 160. Da sexta não se pode determinar o pezo com
exactidão.
Pertendem que para levantar huma toeza cubica da
primeira especie de terreno são necessarias 9 Libras de
polvora; 11 para a segunda; 13 para a terceira,
[Página 64]
15 para a quarta; 18 para a quinta; 20, ou 25 para a
Alvenaria sobre a terra, e 35, ou 40 sendo de baixo da
terra. Medidas Francezas.
M. de Vauban no segundo Volume do seu attaque, e
defensa de Praças diz que as seguintes Regras nunca faltam
Para uma toeza Cubica de
terra ordinaria .........
14lb
pissarra ...................
17lb
terra misturada ........
18lb
barro........................
19lb
22lb
[
15lb
]
No livro de Muller pode ver-se que a
carga de
22lb
corresponde a terra gordurosa ou dura, misturada
com pedra, e a de
15lb
, e não
25lb
como se lê na cópia
manuscrita, corresponde a areia húmida.
Estas Regras de M. de Vauban fazem as cargas das
Minas maiores, que as dos Mineiros modernos. Só os
esperimentos he que podem decidir esto ponto; pelo que
[Página 65]
aconselhará aos Mineiros fizessem sempre (podendo) huma mina
de esperiencia, em cada novo terreno, que achassem.
Regra I
O autor sistematiza os problemas por meio de
10 regras e as operações de cada regra também são numeradas; os dados
utilizados são os mesmos do livro de J. Muller, mas lá não está feita
a sistematização dos problemas, nem a numeração das operações em cada
um deles;
optámos pois por não usar o itálico que indica tradução.
Na cópia manuscrita as Regras também aparecem sem o sinal de transcrição.
[Est. 1]
Para conhecer o Frustro do Paraboloide mencionado no
principio II.*
[Fig. 9]
1. Tome-se o duplo da differença entre
a hippotenuza
FB.
e a linha de menor
rezistencia,
EF.
2. Multiplique-se esta quantidade pela linha de menor
rezistencia,
EF.
3. Multiplique-se este producto pela hyppotenuza,
FB.
[Página 66]
4. Multiplique-se este producto por 1.57, e este
ultimo producto será o Frustro
ABDC
buscado.
Exemplo.
Seja a linha de menor rezistencia
FE.
,
10
pez; a hippotenuza
FB
, se se não conhece
antecedentemente se acha tirando, a raiz quadrada da soma dos
quadrados da linha de menor rezistencia, e do raio da baze, e sendo
este tãobem
10
pez a soma dos 2 quadrados será
200
, e a sua
raiz, quadrada
14.14
igual a hyppotenuza
FB
.
Então as quatro operaçoens desta Regra darão
1.a
8.28
.
2.a
82.8
3.a
1170.792
4.a
1838.137
, e será o Frustro,
1838
pez
[Página 67]
cubicos, desprezando os decimaes.
Regra II.
Tendo o valor do Frustro
ABDC
,
e alinha de menor
rezistencia
EF
para conhecer o parametro (parametro he
duplo da differença entre a hyppotenuza, e a linha de menor
rezistencia).
1. Multiplique-se a linha de menor rezistencia
EF
pelo numero
1.57
.
2. Por este producto se divida o duplo do Frustro,
ABCD
.
3. Ajunte-se a esta quantidade o quadrado da linha de
menor rezistencia,
EF
.
[Página 68]
4. Tire-se a raiz quadrada desta soma.
5. Desta raiz se subtrahia a linha de menor
rezistencia, este resto será o parametro.
Ex.
Seja a linha de menor rezistencia
10
, e o Frustro
1838.137
teremos.
1.o
15.7
.
2.o
234.14
3.o
334.14
4.o
18.28
5.o
8.28
e sera
8.28
. o parametro buscado.
Regra III
Tendo o valor do Frustro
ABCD
,
e a linha de menor rezistencia para achar
[Página 69]
o raio
EB
da baze.
1. Ache-se pela Regra II o parametro.
2. Ajunte-se
deste parametro à linha de menor
rezistencia
3. Multiplique-se esta soma pelo parametro.
4. Tire-se a raiz quadrada deste producto, e esta raiz
será o raio buscado.
Ex.
Seja
1838
o Frustro, a linha
de menor rezistencia
10
teremos
1.o
8.28
.
2.o
12.07
.
3.o
99.93
. que hé proximè igual a
100
por excesso,
pelo q. 4.o
10.0
e será
10
, o raio de baze.
[Página 70]
Regra IV.
Para determinar a carga de qual quer Mina proposta
Proposta a Mina, isto hé, dado o terreno, em que hade
ser feita, e o valor do Frustro ou quantidade de terra, que
se quer levantar, ou algumas das suas dimençoens, pelas
quaes por meio das tres regras antecedentes se possa
determinar a sua solidez, não há mais do que multiplicar o
numero de Libras, que requer a toeza ou pé Cubico desse
terreno, pelo numero de toezas ou pez Cubicos, que contem o
Frustro.
Ex.
Seja o terreno, da segunda especie; o Frustro
1838.
pez, ou
[
8.509.
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
8.5.09.
"
;
como uma toeza corresponde aproximadamente a
6
pés, o quociente
de
1838
por
dá aproximadamente
8,509
.
toezas.
Ora a toeza Cubica de terreno da segunda especie
[Página 71]
requer
11
Libras de polvora, e assim multiplicando
11
por
8.509
, teremos
93.599
, ou
que serão as
Libras de polvora necessarias.
Quem duvidar da lotação ordinaria da polvora, que
assignã às diversas especies de terrenos fará huma
esperiencia no terreno, em que houver de trabalhar, e medindo
exactamente o Frustro a quantidade de Polvora da carga
dividida pelo numero das toezas ou pez cubicos, que o
Frustro contem lhe dará a conhecer quanta polvora requer
a toeza, ou pé Cubico desse terreno.
Ex.
No terreno, que me propuzeram fiz huma Mina que
carreguei com
120
Libras de polvora, medindo o Frustro o
achei de
2457.
pez cubicos, ou
11.375
, toezas cubicas
dividindo
120
por
11.375
, acho que este
[Página 72]
terreno requer
10.549
ou
libra por toeza.
Regra V.
Para fazer Minas semelhantes, isto hé, cujas
escavaçoens sejã semelhantes, (cuja terra por conseguinte
será arrojada com igual velocidade) sendo o terreno o mesmo, e
dadas as linhas de menor rezistencia.
Devem ser as Cargas como os cubos das linhas de menor
rezistencia.
Ex. Seja a linha de menor rezistencia da primeira,
10
;
a da segunda,
20
, então se a carga da primeira hé
acharemos a carga da segunda, dizendo como
1000
(cubo de
10
)
[Página 73]
hé para
8000
(cubo de
20
): assim hé
para hum quarto
termo, que será
750
o proximè, e carregando a segunda Mina
com
750
libras teremos huma escavação semelhante à primeira.
Regra VI.
Sendo o terreno o mesmo e dadas as cargas.
Devem as linhas de menor rezistencia ser como as
raizes cubicas das cargas.
Ex. Seja a Carga da primeira Mina
; a sua linha
de menor rezistencia,
10
; e a carga da segunda
750
. Ora as
raizes Cubicas destas cargas se acham ser proxime
[Página 74]
como
1.
para
2.
pelo q. temos
1:2::10:20
, e
20
será com
pouca differença a linha de menor rezistencia da segunda Mina
Regra VII.
Sendo os terrenos diversos, e dadas as linhas de
menor rezistencia
Devem ser as Cargas em razão composta dos cubos das
linhas de menor rezistencia, e das Fortalezas dos terrenos
(tomo as forças dos terrenos na razão das quantidades de
polvora, que requerem por toeza, ou pé Cubico,) e para mais
facilidade.
1. Determinem-se as Cargas pela Regra V como se o
terreno fosse o mesmo.
[Página 75]
2. A quantidade de polvora, que requer por toeza
cubica o terreno da segunda Mina se divida pela quantidade
que requer o da primeira.
3. Multiplique-se este quociente pela carga achada na
primeira operação, e este producto será a carga buscada.
Ex. Seja a linha de menor rezistencia da primeira
10
;
a da segunda,
20
; o terreno da primeira da 2.a especie; o da
segunda da 3.a então se a carga da primeira hé
libras teremos.
1.a
750
lb carga da 2.a se o terreno fosse o mesmo
2.a
3.a
886.363
ou
libras será a carga buscada.
[Página 76]
Regra VIII.
Sendo os terrenos diversos, e dadas as cargas.
Os cubos das linhas de menor rezistencia hão de estar
na razão composta da directa das cargas, e da inversa das
Fortalezas dos terrenos, pelo que para achar a linha de menor
rezistencia conveniente para a segunda Mina.
1. A polvora, que requer o terreno da 2.a Mina se divida
pela que requer o da 1.a.
2. Por este quociente se divida a carga da segunda.
[Página 77]
3. Multiplique-se este segundo quociente pelo Cubo da
linha de menor rezistencia da 1.a.
4. Divida-se este producto pela carga da primeira.
5. Tire-se a raiz cubica deste quociente, e esta raiz
será a linha de menor rezistencia da 2.a para haver de ser
semelhãte á primeira.
Ex.
Seja o terreno da primeira da 2.a especie; o da
segunda da 3.a a carga da primeira,
; o da segunda
: então se alinha de menor rezistencia da primeira hé,
10
, teremos.
1.a
2.a
750
[Página 78]
3.a
750000
4.a
20
. será a linha de menor rezistencia da segunda.
A transcrição encontra-se de acordo com a cópia manuscrita;
contudo a regra VIII refere cinco passos e aqui só estão os
resultados de quatro deles;
20
seria o resultado do 5.o
passo e falta o resultado do 4.o passo que é, aproximadamente,
8000
.
Regra IX.
Dada a carga de huma Mina, e o Frustro (ou algumas
das suas dimençoens por meio das quaes pelas Regras I. II e
III se possa conhecer) para saber a que especie pertence
o terreno, em que foi feita.
Divida-se o numero das Libras de polvora da carga
pelo numero das toezas cubicas, que contem o Frustro, e o
quociente indicando que polvora cabe a cada toeza indica a
que especie pertence o terreno.
Ex. Seja a carga
120
lb o Frustro
[Página 79]
2457
pez cubicos, ou
11.375
toezas cubicas. Teremos
120
dividido por
11.375
igual a
10.5
, o que mostra ser o terreno,
em que esta Mina foi feita alguma couza mais leve ou menos
forte, que o da segunda especie.
Regra X.
Dada a carga de huma Mina, e proposto o diametro da
boca para achar a linha de menor rezistencia.
Busque-se na nossa Taboa o diametro proposto em todas
as Colunas até achar defronte na divisão, que tem por titulo
cargas, a carga dada, e o titulo da Coluna indicará a linha
de menor rezistencia buscada.
Ex. Seja a Carga dada
2204
libras
[Página 80]
e o diametro de
64
pez. Busque-se o numero
64
. na divisão
dos diametros em todas as Colunas até se achar defronte na
das Cargas o numero
2204
, e no titulo da Coluna se achará
a linha de menor rezistencia de
18
pez.
Note-se que até um
exemplo é dado para ensinar a utilização da Tábua do autor.
Não sendo pela Taboa só Rezolvendo a equação do
Problema ultimo, hé que se pode achar esta linha para o que
se não podem dar regras de pratica semelhantes ás antecedentes.
A primeira Tábua encontra-se no livro de Muller;
contudo, os dois primeiros espaços em branco na cópia manuscrita
que se transcreve, são ocupados por zeros na referida Tábua.
[Página 81]
A segunda Tábua também faz parte do livro de Muller.
Advirta-se que nesta Taboa de M. Muller /suponho q.
por cautela/ muito maiores cargas do q. rezultão dos
principios sobre q. he calculada.
[Página 82]
[Página 83]
[Página 84]
[Página 85]
[Página 86]
[Página 87]
Os uzos destas Taboas são tão claros que me parece
inutil demorar-me em explica-los. Comtudo hé necessário
advertir que todas são feitas na suppozição de hum terreno,
que requer
11
libras de polvora por toeza, e por conseguinte
a carga, que acharmos correspondente a huma escavação
determinada se deve dividir por
11
, e multiplicar pelo
numero, que exprime a fortaleza do terreno, em que foi feita
essa Mina, e o numero, que rezultar será o das libras de
polvora necessario para a carga.
Ex. Tenho de fazer huma Mina n'úm terreno, que requer
13
libras de polvora por toeza, e cuja linha de menor
rezistencia, e raio são cada hum de
20
pez: a carga corres-
[Página 88]
pondente a esta linha, e raio na Taboa de M. de la Valiere hé
de
750
libras multiplique-se
750
por
, e o producto
he o numero de lb da carga componente.
Da mesma sorte dada a carga, e o terreno se achará a
escavação correspondente deste modo. Divida-se o numero, que
exprime a fortaleza do terreno dado por 11: divida-se por
este quociente a carga dada e a linha, e raio que nas Taboas
corresponder ao numero, que vezinhar determinarão as
escavações.
Ex. sei que
lb hé a carga de huma Mina feita
n'úm terreno que requer
13
lb por toeza divida-se
por
e o quociente será
750
; busque-se este numero
na Taboa de M. de la Valiere, e a linha de menor re-
[Página 89]
zistencia, que lhe corresponde que hé de
20
pez determinará
a escavação, e da mesma forma se uzará da Taboa de M._Muller.
M. Muller pag. 239.
"Ainda que as camaras se fazem
ordinariamente cubicas comtudo sendo a quãtidade
de polvora consideravel será mais vantajozo fazelas
chatas pois não sómente ficará o fundo da escavação
mais espaçozo, mas tambem a linha de menor rezistencia,
que sempre se toma do centro da camara será mais
proporcional à terra superior.
Seria bom quanto a mim, que as camaras se fizessem
todas da mesma altura da da Mina de experiencia. Nesse cazo
se acharia o lado da camara multi-
[Página 90]
plicando a altura dada por
55
(por que
55
. hé o numero das
lb. que peza hum pé cubico de polvora
ordinaria)
Esta nota dentro de
parêntesis não se encontra no livro de Muller.
e dividindo
por este producto a quantidade de polvora dada a raiz
quadrada deste quociente será o comprimeto buscado.
Por ex. para achar o lado de hua caixa, que hade conter
360
lb.
de polvora cuja altura he
1
pé (e para a facilidade de
computo será melhor que em todos os cazos seja a altura
sempre de
1
pé)
O mesmo da nota anterior.
.
Temos então
55
. multiplicado por
1
he
55
. e
360
dividido por
55
he
6.5455
cuja raiz
2.558
pez ou
30.7
polegadas será o comprimento buscado.
N. B. deve-se observar que a caixa hade ser huma
quarta parte maior que o volume da polvora, que encerra por cauza
[Página 91]
da palha, e sacos, de que se hade guarnecer por dentro: e assim
sendo a quantidade de polvora
360
lb se lhe deve ajuntar a
quarta parte, que hé
90
, e a soma
450
dividida por
55
dará
8.1818
cuja raiz quadrada
2.86
pez ou
34
polegadas será
o lado, que se busca.
Tão bem não será máo observar que quando succede
ficar a camara sobre huma rocha, ou outra qualquer
substancia dura, encontrando então a força ou acção da
polvora maior rezistencia da parte debaixo se empregará toda
em levantar a terra superior; e por conseguinte será o
effeito da Mina muito maior que o da mesma quantidade de
polvora collocada sobre outra substancia mais branda. Pelo
que se a Camara se coloccar sobre huma plataforma de fortes
pranxoens, ou de pedras será necessario menor
[Página 92]
quantidade de polvora para a carga da Mina.
Se se fizerem vazos da figura de hu cone truncado
sufficientemente abertos em cima de sorte que nelles caibã
as cargas competentes ás Minas podem ter grande serventia
nas Praças sitiadas, porque postos sobre huma plataforma bem
firme, e bem especados da parte de cima pouca porção de
Galeria necessita attacar-se, e logo que a Mina rebentar
podem os Mineiros entrar na Galeria retirar
o vazo alguma couza mais para traz e carregado outra vez o que
se pode repetir varias vezes, de sorte que na mesma Galeria
se podem fazer rebentar varias Minas, e com bem pouco
trabalho.
(Pag. 243)
[Página 93]
Como se derigem as Galerias.
O texto que se segue diz respeito à
Estampa 3 e não à Estampa 2; todas as figuras desta estampa
vêm no livro de Muller, página 246.
[Est. II
Fig. 1. ]
"Supponhamos que o poço se hade
abrir em
A
, e a Mina de
profundidade determinada hade ser debaixo do objecto
B
.
A primeira couza, que se hade fazer hé achar exactamente
a distancia
AB
. ou por trigonometria ou por qualquer outro
meio depois se deve achar tambem exactamente por meio de
huma boa agulha, e hum compasso a inclinação da linha
AB
. a
respeito do Sul, e Norte que supporemos reprezentada pelo
angulo
B A N
. Abre-se então o poço de
5
ou
6
pez para cada
parte, e tão fundo como o deve ser a Mina. Começa o Mineiro a
dirigir a Galeria, segundo o dito angulo, servindo-se do
lível
Mesma observação da nota 29.
dos pedreiros para a levar horizontal, e continuada
ella a vai me-
[Página 94]
dindo ate se achar debaixo do objecto
B
. e ali forma a Camara.
Se o objecto
B
está mais alto
ou mais baixo, que o lugar onde se fez o poço
subtrahe-se ou ajunta-se à altura deste a differença
das alturas dos lugares
A
, e
B
.
Pode [Fig. 2] succeder encontrar-se algum
obstaculo no caminho, como hum rochedo,
agoa, ou lugar alagadiço, em taes cazos se
faz a Galeria com cotovelos, em angulos rectos
v._g. volta-se em angulo recto de
C
para
D
. tendo passado o obstaculo se vai de
D
.
para
E
por huma direcção paralella a
primeira parte
AC
: chegando a
E
, se abre
hum caminho para
F
perpendicular a
D E
, e se faz
E F
igual a
C D
por este modo
se achará o ponto na primeira direcção,
[Página 95]
na qual se continua até que a soma das tres
partes
AC
,
DE
,
FB
seja igual à distancia
dada do objecto
B
. até o poço
A
.
Varios cazos podem ocorrer na
condução das Galerias, que não se podem adivinhar,
nem descrever, pelo que os deixarei à industria, e
Sciencia dos Mineiros experimentados.
Huma couza de suma importancia
hé que a Mina se ache exactamente debaixo do
objecto, que sequer fazer saltar aliás se perde
muito tempo, trabalho, e despeza inutilmente.
Hé tambem igualmente necessario
conhecer ao justo a linha de menor rezistencia
para determinar a carga competente; se esta
linha se não pode conhecer com exactidão necessaria
será sempre melhor dar-lhe polvora demais, que
[Página 96]
de menos."
(Notem bem o que se segue os Mineiros, que não tem se
não pratica).
"O Leitor conhecerá facilmente que hum bom
Mineiro deve ser bem versado na parte pratica da Geometria sem a
qual lhe será impossivel conduzir as Minas cõ alguma certeza,
e por isso aconselho a aquelles, q. dezejã entender bem esta
materia, que primeiro estudem Geometria."
Minas de differentes castas
"Se huma Mina tem huma só camera tal [Fig. 3] como
A
.
se chama simples; se tem duas dupla, ou dobre; se tem tres, tripla
&
sic caetera.
N'úma Mina simples feita debaixo
do reparo de huma Praça para abrir brecha
não deve ficar a boca da Galeria defronte do
[Página 97]
lugar onde se determina fazer a Camara, antes
pelo contrario se deve abrir, ou de hum lado ou
do outro, e fazer a Galeria com dois cotovelos
B
e
C
para poder ficar mais bem attacada, e com
mais segurança, e para que a distancia da boca
O
á camara possa ser maior que a linha de menor
rezistencia, aliás faria a Mina o seu effeito
para a banda da Galeria. Deve-se tambem
observar que a Camara está no meio de hum contraforte,
por cuja cauza fará maior brecha do q.
se estivesse na terra por detraz da muralha.
[Fig. 4]Quando se fas huma Mina dobre debaixo do reparo para
abrir brecha deve ficar a boca
O
da Galeria quanto mais
perto se puder julgar do meio do intervalo dos dois
contrafortes. Conduzida a Galeria por toda a grossura da
muralha em linha recta se volta para a direita, e esquerda
em forma de
T
pelo que se dá a estas Minas o
[Página 98]
nome de Mina
T
, e se collocam as Camaras nos
contrafortes vizinhos a iguaes distancias da Galeria
direita. Esta Mina dobre abrirá muito
maior brecha, que huma simples, e por esta razão
se prefere a qualquer outra.
Mas havendo de fazer huma Mina
[Fig. 5]tripla debaixo do reparo se procurará abrir a
Galeria em
O
defronte do contraforte, e voltando
para a direita, e esquerda da mesma sorte se collocam
as Cameras
AB
nos dois contrafortes adjacentes.
Pelo que toca á Galeria da terceira
C
conduz-se esta á roda do contraforte, e se colloca
a Camera no fim delle. Esta ultima se carrega
ordinariamente com
50
arrates de polvora mais que
cada huma das outras, deve porem haver grande cuidado na
conducção da calhe da Salsicha para que seja igual em
comprimento à da Camara
B
(ou
A
) aliás não
[Página 99]
pegará o fogo em todas tres ao mesmo tempo, e
pode não pegar na Camera C. o que muitas vezes succede,
e não se conseguirá o effeito dezejado.
Raras vezes se uza de Minas mais
que triplas nos sitios das Praças, mas quando
se quer demolir qualquer obra se fazem tantas,
quantas são necessarias para demolir huma
face inteira de huma vez, o que se faz communicando
o fogo a todas ao mesmo tempo; isto hé,
todos os Salsichoens se vão terminar em hum
e de tal sorte se dispoem que as suas partes desde
a Camara até o ponto, em que se ajuntam sejam exactamente iguaes.
Advertencia
Ainda que nas ultimas duas figuras
suppuz a boca
O
da Galeria exactamente
[Página 100]
no meio do interválo das duas Minas lateraes bem pode
o Leitor ver que he isto huma couza impossivel na pratica, por
que nem os lugares ne as distancias dos contrafortes se
podem ver por fora da muralha por consequencia huma mera
estimativa hé que pode servir de guia; porem continuada a
Galeria por toda a grossura da muralha se pode dirigir a
Galeria para a direita, e esquerda até encontrar os
contrafortes, e então achando-se a distancia de hum maior que
a do outro se disporá a calhe, e salsichão da menor distancia
em
ziguezague. Em todas as Praças fortificadas por M. de
Vauban a distancia do centro de hu contraforte a outro vizinho
hé sempre de
18
pez sendo a muralha da mesma altura do
reparo, e de
15
sendo mais baixa, e desta sorte achado hu
contraforte se sabe ja a distancia, que vai delle ao mais
vizinho mas, em qualquer outra fortificação de nada serve
esta observação.
[Página 101]
(Mr Muller Att. and Deff. pag. 54)
Poucas Praças há que não sejam
contraminadas, e quando os sitiados se vem
obrigados aceder á superioridade dos sitiadores
tanto em gente como em Peças de Artelharia,
e já sem esperança de restaurar as obras perdidas,
não faltarão de dar fogo ás suas Minas,
como ultimo, e unico meio, que lhe resta para
poder retardar os progressos do inimigo, e fazelo
voar com as suas mesmas obras, obrigando-o assim
attaca-las de novo, e a fazer novos alojamentos
no mesmo lugar, que ao principio julgava
seguro. Hé por consequencia necessario mostrar
o modo de achar as Minas dos sitiados
para prevenir o seu effeito ou destruir a maior
parte dellas.
[Página 102]
Para este effeito se abrem pòços na
terceira paralella de
7
ou
8
pez
[
quadrados]
Na cópia manuscrita lê-se
"
7
ou
8
pez em quadro
"
,
enquanto no original inglês se lê
"
7
or
8
feet square
"
.
,
e de
18
ou
20
de altura se o terreno o permittir, e dáli
se conduzem Galerias até á estrada coberta de
4
pez de largo, e
5
de alto, fazendo deligencias
para encontrar as do inimigo para o que se fûra
para os lados para baixo, e para cima com
huma longa agulha de ferro ou broca de espaço
em espaço para ver se as Galerias ou os Mineiros
do inimigo estão perto; se se acha que
estão por baixo abre-se para baixo hum buraco
por onde se lhe deita huma bomba tanto para
os expulsar como para os destruir; se se acha
que estão por cima pode se fazer huma pequena
Mina para os esmagar, mas estando de
hum ou outro lado hé necessario averiguar
se se avizinhã, ou se se affastam. No primeiro
cazo se abre hum buraco, e se lhe mete dentro
huma pistolla prompta a disparar-se logo que
[Página 103]
chegarem ao alcance; e no segundo cazo se deve
continuar a Galeria direita a elles até que estando
perto delles se faz huma pequena Mina
para da mesma sorte arrombar a galeria
e destruir os Mineiros.
Os Sitiadores hão de conduzir as
suas Galerias directamente por baixo das obras,
que fazem sobre o terreno para as livrar das Minas
do inimigo, e no cazo, que se não encontrem,
como facilmente pode succeder se lançã ramaes
para huma, e outra parte com pequenas Minas
nos extremos, que rebentando não deixarão de
destruir muitas das Minas, e
[
Galerias]
Na cópia
manuscrita lê-se
"
Galeria
"
no singular, enquanto no
original inglês a palavra aparece no plural.
do inimigo.
Não obstante todo o cuidado, que
nisto pode haver não se deve prezumir que
o Sitiador possa destruir todas as Minas dos
sitiados, e por isso logo que elles dão fogo a algumas
[Página 104]
das suas se mandã imediatamente
trabalhadores a allojar-se nas escavações. E
se por alguns meios se puder conduzir agoa
às Galerias do sitiado não deixará de as destruir
como sucedeu no Sitio de Turin onde muitas
Minas ficara sem effeito por este meio.
O Sitiado faz as suas Minas geralmente
a
4
ou
5
pez de distancia da estrada coberta
onde sabem que os Sitiadores se hão-de
alojar, e se não atrevem a fazelas mais perto
por medo de quebrarem as palliçadas; por esta
razão os Sitiadores farão tambem ali as suas
para deixar as outras sem effeito, e fazer em
parte os Seus alojamentos. Desta cautella se
deve uzar sempre que ouver suspeita de
algumas Minas dos Sitiados..."
[Página 105]
Vantagens da Theorica de
Mr. Muller.
(pag. 233)
"Não será improprio fazer menção
de algumas vantagens deste methodo em comparação,
dos que ate agora se tem uzado entre os
Mineiros, huma das principaes hé que sendo
necesaria huma Mina de grande abertura n''hum
terreno onde se não pode profundar muito,
sem encontrar agoa vem se obrigados a fazer
duas ou mais Minas huma ao pé da outra,
para que os seus effeitos juntos produzã a dezejada
abertura ao mesmo tempo, que sempre se
pode produzir qualquer abertura seja a linha de
menor rezistencia qual for;
Ha varios cazos especialmente na
[Página 106]
Defensa das Praças, em que huma grande escavação
produz hum alojamento conveniente
aos Sitiadores, o que se deve evitar quanto for possivel
por isso todo o ponto he fazer as Minas, de
sorte que destruã as obras dos Sitiadores sem lhes
dar commodidade para se cobrirem. Isto se executa
fazendo a linha de menor rezistencia pequena,
e carregando a Mina com mais polvora.
Outras vantagens há em fazer a linha
de menor rezistencia pequena; os poços, e Galerias
se fazem com muito mais brevidade, e se
podem collocar varias Minas humas debaixo
das outras, por meio das quaes hum mesmo
espaço de terreno, se faz saltar por varias vezes;
e como os sitiadores se alojã na escavação logo
que a Mina rebenta julgando se seguros a
segunda Mina lhes fará ainda maior danno
que a primeira, e o mesmo se pode dizer da terceira.
[Página 107]
Como os lugares, em que se fazem
as batarias para abrir brecha na face de hum
baluarte sempre se conhecem, podem se fazer Minas
de baixo delles, não só para as batarias como
tambem para fazer cahir as Peças d'Ártelharia
no fosso; e isto por varias vezes como em
la Fere
onde huma mesma bataria opposta a huma
luneta, e que continha duas Peças de
24
se fez
saltar tres vezes huma depois de outra, e de cada
vez cahirã sempre as Peças no fosso."
Nota I
Prova do Principio II.
(pag. 223)
"Rezolveo-se o Commandante
em chefe da Artilharia em
la Fere a
fazer várias experiencias ....... em consequecia,
do que se fizerão couza de
150
Minas desde
[Página 108]
o anno de 1725 até o de 1730 de muitas, das
quaes fui testemunha de vista
Sete Minas
destas, cuja linha de
menor rezistencia era
10
pez se carregarã com
as seguintes quantidades de polvora; a primeira
com
120
lb; a segunda com
160
; a 3.a com
200
; a 4.a com
240
; a 5.a com
280
;
a 6.a com
320
, e a
7.a com
360
. Rebentaram estas Minas hua
depois da outra, e examinadas as suas escavacoens
se acharam os diametros da baze pelo
teor seguinte. O da 1.a de
pez;
o da 2.a de
26
;
o da 3.a de
29
; o da 4.a de
;
o da 5.a de
o da
6.a de 36; e da 7.a de 38."
Agora para mostrar quanto esta Theoria concorda com
as experiencias mencionadas supporei a primeira Mina
conhecida, e
[Página 109]
procuraremos então quaes eram os
diametros das outras. Todas as
linhas de menor rezistencia destas Minas eram cada huma de
10
pés, e o diametro da baze da primeira, se achou de
,
e assim
AE=11.33
, ou
11.4 EF=10
substituidos estes valores na
equação
dá
; e
CD
ou
p=2FB-2EF=10.32
; pelo que substituidos estes valores no
rectãgulo
(N __ )
Não vemos a razão deste parêntesis;
não existe no texto de Muller, que, por outro lado, está totalmente
traduzido (página 232).
por ser a linha de menor rezistencia sempre
a mesma dá
, e este hé o sólido pelo qual se
hão-de determinar as dimensões das mais Minas.
Agora se
120
lb. dão
156.5
quanto darão,
160
lb.? o
4.o termo
será o sólido da 2.o; isto hé
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
208
"
apenas,
em desacordo com o texto de Muller.
= A
,
e
.
Este valor como tão bem o de
b=10
substituido na equação
(n __ )
O mesmo da nota 44.
dá
p=
[
12.7
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
127
"
,
em desacordo com o texto de Muller.
p= 3.2
e
EG= 13.2
; agora estes valores subs-
[Página 110]
tituidos em
dá
e
EB=13
proximè, e como
AB
se achou pela medição de
26
pes bem se vê quanto este calculo
concorda com a experiencia.
Vamos á terceira: Fazendo esta regra como a carga
120
da primeira hé para a carga
200
da terceira, assim hé o
sólido
156.5
da primeira para o sólido da terceira teremos
A=260.84
ou
2A=521.68
e como
b=10
a equação
dá
p= 14.93
,
,
e
GE=13.73
substituidos estes
valores em
dá
EB=14.32
,
e
AB=28.64
o que concorda
sufficientemente com a experiencia pois nella se achou
AB=29
.
Se formos continuando por este modo a respeito da 4.a,
5.a, 6.a e 7.a experiencia acharemos os diametros da
baze pelo teor seguinte o da 4.a de
[Página 111]
31.2
; o da 5.a de
33.2
, o da 6.a de
35.3
e o da 7.a de
37.4
o que sufficientemente concorda com as experiencias, pois a
maior differença não excede a
6
polegadas, e ainda isso
mesmo pode proceder de varias cauzas, como de não ter sido a
linha de menor rezistencia de
10
pez bem exactas; por que
poucas polegadas de mais ou de menos pode cauzar alteração
ou da dezigualdade do terreno, que podia ser mais ou menos
denso com muitos outros accidentes que podem ocorrer na
pratica, e a não deixam concordar exactamente com a
Theorica."
Nota II
Esta demonstração tirada do methodo das series
nenhuma força pode ter para as pessoas, que dellas não tem
noticia.
Em beneficio pois destas pessoas darei aqui este
methodo copiado do excelente Tratado do
[Página 112]
Cavalheiro Newton intitulado
Analisis per Quantitatem series
Fluxiones ac Differentias.
Diz elle assim n'úma Carta que escreve a M.
Oldembourg
A carta está incluída no livro referido,
cujo título completo é
"
Analysis
per quantitatem series fluxiones ac differentias,
cum enumeratio linearum tertie ordinis
"
,
publicado em Londres em 1711.
"Proponha-se a Equação da Area da Hyperbole
e multiplicados os seus membros por si mesmo sahirá
[Página 113]
tiro agora
de
z
e fica
ajunto-lhe
e sahé
tiro-lhe
e resta
ajunto-lhe
e sahe
quam proxime ou
Por meio desta casta de calculo ........... se tirão as raizes
da maior parte das equaçoens
[Página 114]
Na Regressão porem das Areas para as
linhas rectas poderão servir estes Theoremas
THEOREMA I.
Seja
.
E então será
[
]
Na
cópia manuscrita o termo
está incluido no
último termo do numerador da fracção; a correcção foi feita
de acordo com o texto original de Newton.
Por exemplo. Proponha-se huma Equação
da Area da Hyperbole
[
]
Na cópia manuscrita lê-se apenas
"
"
;
correcção feita de acordo com o texto original.
E substituindo na 1 Regra
1
em vez de
a
,
em vez de
b
,
em vez de
c
,
em vez de
d
, e
em vez de
e
sahirá
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
"
; correcção feita
como a precedente.
THEOREMA II.
Seja
e será
[Página 115]
+
[
]
Na cópia manuscrita lê-se
"
"
apenas; correcção feita como as anteriores.
"
Acaba aqui a tradução do referido texto de Newton.
Os valores de
y
dados nestes dois Theoremas são
achados pelo modo, que se achou o valor de
x
no 1.o Exemplo.
Pois divida-se por
a
, e fica
depois obre-se como no dito Exemplo, e sahirá o mesmo valor.
Será necessário advertir aos principiantes que este
methodo só tem lugar, quando estas series são convergentes,
isto hé taes que os seus termos vão diminuindo de sorte que
já o 5.o, 6.o, 7.o, 8.o ou 9.o termo seja tão pequeno que se
possa deixar de fora no Calculo. Vg no Exemplo a cima se
suppoem que já o termo, em que
x
se acha
[Página 116]
elevado á 6.a potencia he tão pequeno que não merece
contar-se, e por conseguinte em todas as operaçoens se deixa
de fora como tambem todos os mais, em que
x
sobe á mais alta
potencia. Por exemplo eis aqui como se quadra
z
e o seu valor
neste cazo.
[
+
]
\notamk
Na cópia manuscrita não existe este sinal
+
.
e todos os mais termos, que conterião mais altas potencias
por minimos se desprezam.
O coefficiente do segundo termo hé sempre o que determina
como se deve obrar na operação seguinte Vg no Exemplo a cima
como o coefficiente do segundo termo he
tiro
[Página 117]
de cada parte, e como no resto o Coefficiente
do segundo termo hé
tiro
(isto hé a junto
) ecomo no
resto o coefficiente do segundo termo he
tiro
&c sic Caetera.
[Página 118]
Appendix
Como nesta terceira parte se não acham algumas
couzas, e se explicão outras talvez muito de passagem,
parecendo-me com tudo necessarias as exporei aqui por meio
dessas duas Estampas tiradas de M. le Blond, as quaes com as
suas explicaçoens bastam para dar hua sufficiente ideia
dellas.
(M. le Blond Artill. Raisonn. Art. IV.)
Trata-se do livro de Guillaume Le Blond
"
L'Ártillerie raisonnée
"
,
publicado em Paris em 1761.
Explicação da 3.a Estampa
É óbvio que a descrição não diz respeito à Estampa 3
da cópia manuscrita, mas a uma estampa que numerámos como 4;
as figuras desta estampa são tiradas do referido livro de
Le Blond. Contudo as figuras não estão numeradas e parece
que há figuras omissas.
-
A Figura 1.a mostra a Broca do Mineiro
-
A 2.a huma sonda
-
A 3.a huma porta das, com que se fexam os cotovellos
das Galerias: As letras
O
denotam as vigas horizontaes, e
N
as verticaes.
[Página 119]
-
A 4.a
C
hé a Galeria
BB
he hum canudo, que chega desde
a boca do poço até a camara
D
;
A
he huma vella agitada pelo
vento para fazer circular o Ar dentro da Galeria.
NB
. Este meio parece impossivel que produza o effeito
dezejado pois não sei que o Ar movido pela vella ao pe da
boca do canudo possa ter grande influencia no Ar, que se
encerra nelle.
-
A 5.a
T
he o poço,
LKKL
, hé a Galeria,
E
outro poço
mais pequeno,
G
huma communicação entre os dois poços,
H
hum
canudo que vai ate o fim da Galeria. No poço,
E
se poem hum
ou mais brazeiros cujo fogo se deve continuamente estar
a soprando: O fogo dos brazeiros rarefaz o Ar
[Página 120]
no poço
E
pelo que todo o Ar, que se contem no canudo como
mais pezado correrá para o poço
E
o que fará correr todo o Ar
exterior pela Galeria adiante para entrar no canudo a
occupar o lugar cedido pelo Ar que correu para
E
.
N. B. Parece impossivel que este expediente deixe
de ter effeito, tem porem o inconveniente de não se poder
sempre por em execução á vista do inimigo como dis S.t Remy.
O autor aqui referido é Surirey de S.t Rémy, que publicou
uma obra intitulada
"
Mémoires d'Ártillerie
"
, com várias
edições, tendo a primeira edição sido publicada em 1697.
-
A 6.a Mostra a maneira de especar as terras sobre,
e ao pé da Camara.
-
A 7.a e 8.a N, fornilho ou Camara cheia de polvora.
-
O Espeques pela parte de cima da Camara.
As descrições desde
"
O
"
até
"
d
"
parecem
corresponder à estampa que foi tirada do referido livro de
Le_Blond. É curioso que esta estampa é simétrica
em relação à original.
[Página 121]
-
P Enxelharia desde o fornilho até o primeiro cotovello.
-
Q Vigas, Espeques, Estroncas, que especam o primeiro
Cotovelo.
-
R Espaço, que hade ser de enchelaria como está
reprezentado na planta, e que se õmite no perfil para deixar
ver a especaria do cotovello
Q
-
S Especaria do Segundo cotovello.
-
T Enxelharia entre as especarias do Segundo, e terceiro
cotovello.
-
V Especaria do terceiro cotovello.
-
X Enxelharia entre o terceiro, e quarto cotovello, que
não está reprezentada no perfil.
-
Y Especaria do terceiro cotovello.
-
Z Enxelharia desde o quarto, e ultimo cotovello até
a porta da Galeria.
-
a Fogo que pega na Salcicha.
-
b Poço, que se faz logo ao principio, em cujo
[Página 122]
fundo começa a Galeria
-
c Cestos que servem para tirar a terra da Galeria, e para
se ministrar ao Mineiro o que necessita.
-
d Sarilho para issar os cestos.
Explicação da 4.a Estampa
A estampa aqui
referida seria provavelmente a 2.a estampa tirada do livro de
Le_Blond, já que o autor fala em duas dessas estampas.
Existe porém uma 5.a estampa na cópia manuscrita que numerámos
com 5, mas que não parece corresponder a esta descrição.
A figura 1.a reprezenta huma Mina feita no
contraforte de huã muralha para abrir brecha. A sua linha de
menor rezistencia não hé perpendicular ao plano do horizonte
mas sim à superficie exterior
H J
da muralha. Bem se vê que
feita pela polvora a escavação
HEJ
toda a parte superior da
muralha hade cahir no fosso, e fica feita a brecha. Se porem a
camara se collocase em
D
então todo o effeito seria para
cima, e recebendo a muralha tal vez muito pouco aballo não
se consiguiria
[Página 123]
o effeito dezejado.
A 2.a, reprezenta dois andares de Minas, isto he duas
Galerias huma sobre outra, e cada hua com seus tres
fornilhos.
N. B.
Esta invenção de
Minas de varios andares (des
mines a plusienrs Etages)
hé de M. de Valiere, são
utilissimas nas esplanadas, e consiste a sua singularidade em
fazer saltar repetidas vezes o mesmo terreno, por cujo meio
se atrazam infinitamente as obras do inimigo, e se lhe mata
muita gente.
A 3.a e 4.a reprezentam tres andares de Minas.
A 5.a denota 11
EEEE
a planta do primeiro andar
EE
da
figura 3.
H22FF
ã do segudo
FF
da mesma figura,
333 G
, a do
terceiro
G
da mesma.
A 6.a mostra o perfil de huma esplanada contra minada
segundo o methodo de M. de
[Página 124]
Valiere com tres andares de Minas,
a Galeria
LN
, a escada de communicação de fornilho L. para o
fornilho M. &c.
As linhas de menor rezistencia são perpendiculares ao plano da
explanada
L
,
F
reprezenta hum plano que passa por todos os
fornilhos que por isso se chama plano dos fossos, e faz com o
da esplanada hum angulo de
45
gráos.
A 7.a reprezenta o plano
LF
da 6.a com os
fornilhos, que nelle se acham.
Estas duas figuras servem para mostrar como se hão de
determinar os intervallos dos Fornilhos, e dos andares, em
que se acham o que se faz por esta construcção.
A distancia
FG
se toma de 4 ou 5 pés a linha de menor
rezistencia
NO
igual
OF
(fig. 6) igual ao intervallo
MR
(fig. 7) dos fornilhos do primeiro andar igual ao intervallo
ME
ou
ER
igual à metade do intervallo
EV
dos forni-
[Página 125]
lhos do segundo andar, que hé arbitraria. A distancia
MN
(fig. 6) he igual a
JE
(fig. 7) O intervalllo
EB
em
BV
(fig.
7) he igual a linha de menor rezistencia
PM
(fig. 6). O
intervallo
BS
hé quadroplo de
ON
(fig. 6) ou
MR
(fig 7). E
por este modo se regularão as distancias de mais andares
se for precizo, e ex aqui em poucas palavras o methodo de M. de
Valiere. Na sua Taboa se buscarão as linhas de menor
rezistencia destas Minas (as quaes, por meio das dimençoens
dadas se acham facilmente ou por calculo, ou com o petipé)
e se lhes darão as cargas, que a essas linhas correspondem.
Em terras brandas ou Soltas se fará o intervalo
MR
(fig. 7) maior que a linha de menor rezistencia couza de
da mesma, ou que o Mineiro prudente julgar para que as Minas
se não destruam huas ás outras e todas as mais distancias,
e intervallos se regularão pelo intervallo
MR
da mesma sorte,
que explicamos.
[Página 126]
A figura 8.a mostra as aberturas de cada huma das
Minas.
NB
com a Theorica de M Muller se pode aperfeiçoar
summamente este methodo como facilmente acharão os curiozos
por pouco q queirão meditar sobre esta materia.
Não devo acabar sem pedir perdão aos Mineiros de
consumada experiencia por pertender expor a pratica das Minas,
sem ainda ter visto jogar se não duas, a cuja fabrica não
asssisti como tambem de alguns termos, que se acharem menos
proprios, por esta razão em toda a parte pratica deste papel
não fis mais do q. copiar fielmente os Autores, que cito,
e o meu intento he sòmente ser util aos Officiaes moços meus
Camaradas.
F I M
O número desta estampa não se encontra
na cópia manuscrita.
Mesma observação da nota anterior.